Notícias

Sobram vagas em Guarulhos por faltar profissionais especializados

Guarulhos, 10 de abril de 2008

A frase já se tornou um clichê: “Não consigo emprego porque não há vagas”. É a afirmação aqueles que procuram por uma oportunidade no mercado de trabalho em Guarulhos. No entanto, o que muitos não sabem é que existem vagas, sim, mas que não são preenchidas devido aos candidatos não possuírem capacidade técnica suficiente para tanto.

Quando um profissional altamente capacitado sai de uma empresa, muitas vezes ela, ao não encontrar um substituto à altura no mercado de trabalho, acaba tendo que treinar seus próprios funcionários para realizar o trabalho daquele que saiu. Essa situação não é de todo prejudicial, já que eleva a capacidade daqueles que recebem cursos de especialização pela própria companhia. Contudo, o tempo que esse procedimento leva acaba por trazer prejuízos, já que a especialização demora a ser atingida.

“Além disso, o procedimento só se observa com empresas grandes, que têm recursos para oferecer programas de especialização aos funcionários. As pequenas já não conseguem”, explica Cida Marques, selecionadora de pessoal da agência Multiplan, de Guarulhos. Segundo ela, praticamente todos os bons profissionais da cidade já estão no mercado, e cita o caso de uma gigante automobilística, com fábrica em Guarulhos, que procurava um engenheiro de automação. “A empresa teve muitas dificuldades e acabou encontrando uma pessoa de Sorocaba”, diz.

Em Guarulhos, de fato é mais difícil. De acordo com Marques, na região do ABC e em São Paulo, as possibilidades de encontrar pessoas especializadas são maiores. Contudo, uma reportagem recente da revista Veja mostrou que o problema ocorre em todo o território nacional. Segundo o texto, empresas multinacionais acabam recorrendo a funcionários “importados” que preencham os requisitos pedidos.

Os motivos alegados pelos desempregados são parecidos. Muitos não têm condição de arcar com os custos de uma boa faculdade ou realizar cursos técnicos em locais especializados, como o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), que é pago. “Contudo, existem diversos cursos gratuitos. Há funcionários também que não querem começar em uma empresa como ajudantes, por exemplo, mas é natural que muitos iniciem sua carreira ‘de baixo”, diz Marques.

A dificuldade em encontrar pessoas especializadas ocorre em todas as áreas de atuação, seja administrativa, de engenharia, advocacia ou outras. É certo que o mercado hoje é mais exigente e há também o fato de que muitos profissionais que estão há muitos anos em uma empresa, realizando o mesmo serviço, não procuram se especializar. A tecnologia se desenvolve, mas o funcionário não acompanha. Segundo o pensador brasileiro Ladislau Dowbor, no livro O que Acontece com o Trabalho?, apesar de as tecnologias terem avançado bastante nos últimos 30 anos, o trabalho realizado agora é igual ao da década de 1970, por exemplo. Esse seria um dos motivos da dificuldade que as empresas têm para conseguir funcionários adequados às suas necessidades.