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Sobe para 43 o número de mortos devido às chuvas no Estado do Rio

Guarulhos, 26 de dezembro de 2001

As chuvas que atingiram o Rio de Janeiro domingo e ontem deixaram 43 mortos. A situação mais trágica é a de Petrópolis (a 65 km do Rio, na região serrana), onde o número oficial de mortes até o final da tarde era 28.

Mas esse total de Petrópolis pode aumentar, pois existem 46 pessoas desaparecidas. “Esse número vai subir, ainda há muitas pessoas soterradas”, disse o governador do Rio, Anthony Garotinho, que passou o dia de hoje na cidade.

Também foram registradas mortes em Duque de Caxias (seis), Paracambi (uma), Niterói (três) e na cidade do Rio (cinco). A Defesa Civil contabilizou 171 desabrigados no Estado e 1.181 desalojados. Desabrigados são os que perderam definitivamente suas casas. Os desalojados são os que não podem retornar para suas residências por estarem em situação de risco ou alagadas.

O número de desabrigados, segundo a Prefeitura de Petrópolis, está subestimado, pois só na cidade existiriam 469 pessoas nessa situação. A prefeitura decretou estado de calamidade pública, mecanismo pelo qual pode arregimentar pessoas e bens particulares para ajudar na solução da tragédia e contratar serviços sem licitação. Também foi decretado luto oficial de três dias em homenagem às vítimas.

A cidade ficou toda tomada pela lama que rolou de vários pontos de encostas e transbordou de rios. Os bairros mais afetados foram Valparaíso, Quitandinha, Bigen e Alto da Serra, onde foram registradas mortes por deslizamentos.

Reconstrução

O governo do Estado prometeu liberar R$ 27,5 milhões até fevereiro para reconstruir a cidade e reassentar parte das 2.500 famílias que vivem em áreas de risco. Desse total, R$ 1 milhão deve ser liberado imediatamente para os trabalhos de emergência.

A situação mais dramática é a de Quitandinha, bairro onde se localiza o hotel de luxo com o mesmo nome, que já funcionou como cassino e teve seu auge até os anos 50.

Durante todo o dia, o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil trabalharam no local para tentar retirar corpos do meio da lama. Moradores diziam que nove corpos ainda estavam no local. Em Bigen, moradores estimavam que cinco corpos estavam debaixo da terra.

Morador da rua Amaral Peixoto, em uma casa de seis quartos e com piscina, o engenheiro Bruno Altgott teve parte de sua casa destruída, mas ninguém de sua família foi ferido. Ficaram sob os escombros sauna, piscina, cozinha e sala de jantar.

“Seria pior se a tragédia fosse à noite. Iria dar uma festa de Natal com mais de 50 pessoas. Morreriam todas”, disse ele, que mora há dois anos e meio no local.

“É a maior tragédia que já vi. Vou embora daqui. Não tem lugar para mim”, disse o pastor Darci Pontes, da Igreja Evangélica Casa de Oração, que afirmou ter perdido o filho Reginaldo Duarte Pontes, 23. O filho morava no mesmo bairro e sua casa ruiu.

De acordo com o pastor, a Defesa Civil nunca havia alertado para o risco de deslizamentos em Quitandinha. A dona-de-casa Raimunda Palácio, que teve sua casa interditada hoje por risco de desabamento, afirma também que nunca foi alertada.

Loteamentos

A prefeitura contesta. O prefeito Rubens Bontempo (PSB) afirma que, em sua administração, impediu 48 loteamentos de se instalarem em encostas da cidade.

A secretária de Obras, Ana Maria Mundstein, afirmou que, quando chove acima de 80 milímetros (cada milímetro equivale a um litro de água por metro quadrado), os moradores são alertados de que devem deixar suas casas. Apenas no bairro de Quitandinha choveu ontem 300 milímetros -quase três vezes o nível médio dos meses de dezembro.