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Morre Roberto Campos, aos 84 anos.

Guarulhos, 10 de outubro de 2001

Agência EstadoSÃO PAULO – O ex-ministro Roberto Campos morreu na noite de terça-feira no Rio de Janeiro, vítima de isquemia cerebral. Mato-grossense de Cuiabá, tinha 84 anos e ocupava uma cadeira na Academia Brasileira de Letras desde 1999.

Campos foi internado em julho, na Clínica São Vicente, com pressão baixa e insuficiência respiratória. Em seguida, contraiu uma pneumonia. Além disso, também lutava contra a diabetes.

Em fevereiro de 2000, o economista já havia sofrido uma outra isquemia cerebral, insuficiência de irrigação sangüínea que pode ocorrer por uma compressão ou uma obstrução arterial.

Ex-seminarista, ex-ministro, ex-diplomata, senador e economista, Roberto Campos estruturou e presidiu o BNDE (que deu origem ao BNDES), criou a caderneta de poupança e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Entre 1964 e 1967, foi ministro do Planejamento do governo Castello Branco, o primeiro do regime militar. Sempre polêmico na maneira como defendia seus pontos de vista, Roberto Campos nunca deixou de ser um defensor aguerrido da economia de mercado e da redução do tamanho do Estado.

Defendia idéias liberais, como a privatização “em massa”, apesar de seu período no governo ser considerado estatizante. Foi execrado pela esquerda por sua participação no governo militar e por suas posições “direitistas”.

Considerou-se vingado nos anos 80, quando o cenário econômico que havia traçado começou a ser concretizado e suas idéias aprovadas pelos governos.

Roberto Campos formou com outros dois economistas conservadores, Mario Henrique Simonsen (já falecido) e Delfim Netto, o trio que definiu o rumo econômico do Brasil até o fim da década de 70. Na época, foi um dos idealizadores do chamado “milagre econômico”.

Depois de servir como embaixador em Londres por oito anos, Roberto Campos se lançou na vida política em 1982, quando a série de governos militares agonizava, pelo Partido Democrático Social (PDS), força de direita que substituiu a Arena, o braço político de apoio ao regime militar.

Eleito senador pelo seu Estado natal, Mato Grosso, em 1990 se tornou deputado federal pelo Rio de Janeiro e foi reeleito em 1994. Em 1998, se candidatou ao Senado pelo Rio de Janeiro, mas foi derrotado.

Há sete anos, Roberto Campos lançou o best-seller “Lanterna na Popa”, em que descreve a sua atuação como diplomata, economista e parlamentar. O livro de memórias, principal obra do economista, já teve mais de 100 mil exemplares vendidos.

Em 1999, Roberto Campos foi mais uma vez alvo de polêmica ao se candidatar à Academia Brasileira de Letras (ABL) para a vaga do dramaturgo Dias Gomes.

Os imortais Celso Furtado, João Ubaldo Ribeiro e Barbosa Lima Sobrinho, entre outros, manifestaram-se abertamente contrários à candidatura de Campos, por considerarem inapropriado um homem de direita concorrer à cadeira ocupada por um ex-comunista.

Filho de professores, Roberto Campos formou-se em Filosofia em 1934 e em Teologia em 1937. Era mestre em Economia pela Universidade George Washington e Doutor Honoris Causa pelas universidades de Nova York e Francisco Marroquim, da Guatemala. Casou-se com Stella e teve três filhos – Sandra, Roberto e Luís Fernando.