Notícias

Antraz pode matar em até 72 horas.

Guarulhos, 10 de outubro de 2001

SÃO PAULO – As novas ofensivas dos Estados Unidos para acabar com o terrorismo estão provocando o medo de uma possível guerra química e biológica.

Os temores aumentaram quando foram detectadas duas pessoas contaminadas pela bactéria antraz na Flórida. Uma delas morreu na sexta-feira passada.

Segundo o senador Bob Graham, as possibilidades de uma contaminação natural vão de “zero a nenhuma”.

Mas como age essa bactéria? Ela provoca uma doença infecciosa que pode atacar o pulmão, provocando diarréia com sangue. Se o paciente não procurar ajuda médica ao ser contaminado, ele pode morrer em até 72 horas.

“Essa é uma bactéria comum, que causa doenças em animais”, explica o infectologista Antônio Carlos Pignatari, professor titular de Infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“Muitos animais morreram no século 19 devido à doença. Só para se ter uma idéia, em 1900 foram vacinados mais de 11 milhões de animais contra o antraz”, acrescenta.

Os homens se contaminam pelos esporos que ficam no solo após a regurgitação dos animais infectados. A doença se manifesta por uma ferida na pele feita por um fungo preto. “Qualquer antibiótico pode ser receitado para o tratamento”, diz o infectologista.

Existe uma outra forma de contaminação pela inalação do bacilo, que provoca uma infecção pulmonar. “Essa forma já é mais difícil de diagnosticar por que é tão raro um caso de antraz que os médicos nunca desconfiam da doença. Somente através de uma análise clínica descobrimos”, alerta Pignatari.

O infectologista acrescenta ainda que depende da quantidade de esporos que a pessoa inala e da capacidade de defesa para que a bactéria seja mortal em poucas horas.

Para evitar uma possível contaminação, os homens podem ser imunizados com uma vacina para animais. “Ela não é a ideal para as pessoas, mas evita a infecção”. A dose da vacina deve ser repetida anualmente.

Varíola

Segundo o infectologista, outros agentes podem ser usados em armas biológicas, como o vírus da varíola, da encefalite viral, da blucelose, do botulismo e até mesmo da salmonela.

Apesar da taxa de mortalidade ser bem menor do que a do antraz, a varíola pode ser mais perigosa por ser uma doença contagiosa causada por um vírus.

“O que precisamos é ter um grande controle da vigilância epidemiológica, que investigue e faça autópsia em animais para evitar contaminações. Não acho que os brasileiros devam se alarmar com essa história”, conclui Pignatari.