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Para Agende, Guarulhos corre o risco de perder vocação logística

Guarulhos, 28 de abril de 2008

A Agência de Desenvolvimento de Guarulhos (Agende) deverá lançar uma campanha nas próximas semanas a fim de pressionar o poder público em alguns pontos em que acredita que poderão melhorar o fluxo de veículos na Região Metropolitana de São Paulo. O objetivo é evitar que empresas deixem de vir para Guarulhos ou que saiam da cidade por não mais conseguirem utilizar suas vias de acesso adequadamente.

“Guarulhos possui vantagens logísticas, mas que estão ameaçadas se os trechos Sul e Leste do Rodoanel não forem finalizados rapidamente”, afirma o coordenador técnico da Agende Marcelo Chueiri. A entidade acredita que a demora em investir em vias de acesso, aliada ao crescimento econômico verificado nos últimos anos, poderá fazer com que Guarulhos perca esse status de ser uma cidade onde existem facilidades no escoamento de produtos. “Corremos o risco de criar um problema gravíssimo para a cidade e a região como um todo. Hoje, vias como as marginais e a avenida Salim Farah Maluf já estão entupidas”, diz.

Como apenas o trecho Oeste do Rodoanel foi finalizado, os motoristas que vêm do interior de São Paulo ou de outros Estados precisam passar pelas marginais e, eventualmente, pelo Centro da Capital para chegar à Dutra, à Fernão Dias ou à Ayrton Senna, enchendo as vias ao longo do caminho. Com a construção de outros trechos, os motoristas poderiam contornar a Região Metropolitana e desafogar as vias centrais.

“Nos locais próximos ao trecho já finalizado do Rodoanel, os investimentos estão aumentando bastante. Barueri, por exemplo, recentemente ultrapassou Guarulhos e já é a segunda maior economia do Estado (atrás apenas da Capital). O Rodoanel liga, com facilidade, estradas que vão para diversas regiões do país, incluindo as 10 grandes estradas que chegam a São Paulo”, aponta Chueiri.

A Agende pretende pressionar o poder público municipal para definir de vez o término do trecho da avenida Jacu-Pêssego na cidade. Em São Paulo, já está praticamente pronto. Quando finalizado, deverá ligar Guarulhos até o porto de Santos, em um trecho de 70 km. Desse modo, a cidade poderia atuar não apenas nas áreas aeroviária e rodoviária, como também na portuária e, com a construção do Expresso Aeroporto e do Trem de Guarulhos, no setor ferroviário. 

Caos no trânsito – Devido à presença do aeroporto internacional e por ser abastecida por rodovias como Fernão Dias, Presidente Dutra e Ayrton Senna, Guarulhos recebeu, ao longo do tempo, diversas indústrias e centros de distribuição. Essa vocação logística, no entanto, poderá diminuir gradativamente nos próximos anos caso o problema do trânsito caótico da RMSP não seja resolvido ou, na melhor das hipóteses, amenizado.São Paulo atingiu, no final de janeiro, a marca de seis milhões de automóveis em circulação. Somados aos de Guarulhos e os de outras cidades que por aqui passam, a tendência é de um aumento de trânsito cada vez maior. As projeções mais pessimistas indicam que, por volta de 2015, os congestionamentos, que hoje chegam a atingir 200 km, possam chegar a 500 km, portanto, mais que o dobro. Tais projeções levam em conta o crescimento desproporcional da quantidade de carros e da malha rodoviária. Se isso acontecer, é bem provável que os motoristas tenham de desligar seu carro, seguir a pé até suas casas e possivelmente buscar o veículo na manhã seguinte, se ele ainda estiver lá.

Representantes da Regional Guarulhos do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), além da Agende e de alguns empresários locais, tiveram um encontro em março com o secretário estadual de Transportes, Mauro Arce, a fim de discutir a possibilidade de melhorar o acesso à cidade através do investimento em infra-estrutura.

O diretor do Ciesp Guarulhos Daniele Pestelli, que também é presidente da Agende, também acredita que em breve a cidade poderá perder as vantagens que proporcionaram crescimento nos últimos anos caso não surjam soluções para o problema do trânsito. “As rodovias cada vez mais se transformam em avenidas, com caminhões chegando de todo o Brasil. A situação está se tornando insustentável”, afirma.

Arce disse na reunião que as obras do trecho Sul do Rodoanel estão bastante avançadas, e que ele deverá ficar pronto no segundo semestre do ano que vem. Já o trecho Leste só deverá ser concluído em cinco anos, contra oito do Norte. Ambos dependem de licenças ambientais que prejudicam o andamento das obras. Como o Sul chega apenas até a região do Grande ABC, é provável que a situação continue piorando ainda por algum tempo, antes de melhorar.

“Pretendemos também cobrar a finalização da Jacu-Pêssego. Já existem verbas para o trecho que ligará a via Dutra até a avenida João Paulo I. Porém, da Dutra até a Ayrton Senna é mais complicado, pois demanda um investimento de 40 ou 50 milhões de reais”, afirma Pestelli, que acredita ainda que poderiam ser feitas parcerias do município com os governos estadual e federal para a obtenção de verbas. Resume o diretor: “Se a indústria não conseguir se locomover por aqui, terá de encontrar locais mais favoráveis”.