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OIT considera produtividade no Brasil uma das mais baixas

Guarulhos, 02 de setembro de 2003

A produtividade no Brasil está entre as mais baixas do mundo, segundo estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado na segunda-feira (01).

O estudo, noticiado pela rede inglesa BBC, indica que o brasileiro trabalha, em média, mais horas do que os trabalhadores na França ou na Alemanha, mas produz aproximadamente um quarto do que eles produzem.

O documento mostra uma queda de 0,2% da produtividade dos brasileiros entre 1980 e 1999, enquanto a Colômbia, um país que sofre os efeitos de um conflito interno, teve um crescimento de 0,9% no mesmo período.

“As economias na América Latina têm taxas de crescimento de produtividade significativamente menores do que as de economias mais desenvolvidas, e mostraram pouco avanço nas últimas duas décadas”, diz o site da OIT, em relação aos resultados do relatório “Indicadores-chave do mercado de trabalho”.

Em média, essas economias tiveram até um declínio significativo no nível de produtividade, entre 1980 e 1990, e uma recuperaão lenta durante os anos 90. No entanto, de acordo com Dorothea Schmidt, uma das economistas que produziu o relatório de 855 páginas, é injusto dizer que os trabalhadores dos países em desenvolvimento “não são eficientes”.

“Eles estão trabalhando duro. Eles estão provavelmente trabalhando mais duro do que outras pessoas. É apenas porque eles não têm a tecnologia que eles não podem ter um bom desempenho”, afirma a especialista da OIT.

O diretor-executivo do departamento de emprego da OIT, Goaran Hultin, também acredita que esse é um ponto importante. “O uso da tecnologia sustenta o forte desempenho em termos de produtividade”, disse ele à agência Reuters. Os números indicam que a produtividade brasileira é inferior à de países mais desenvolvidos nos setores do comércio, indústria e agricultura.

No setor de comércio, por exemplo, o Brasil registrou uma queda de produtividade de quase 40% de 1980 a 1996. Já no setor industrial, a OIT destaca que a diferença entre Brasil e México, por um lado, e entre Brasil e os Estados Unidos, por outro, se ampliou substancialmente.

“No Brasil, a produtividade no setor de manufaturados teve um declínio até mesmo em termos absolutos, e o nível de produção relativa comparado aos Estados Unidos caiu de 40%, em 1980, para menos de 20%, em 1998”, revela o site do OIT.

O Brasil e outros países em desenvolvimento também tiveram baixa produtividade em 2002 no setor da agricultura, onde o acesso a novas tecnologias parece ter um papel crucial. O documento indica, por exemplo, que a produtividade de um trabalhador agrícola nos Estados Unidos é, em média, 650 vezes maior do que de um no Vietnã.

De acordo com a OIT, porém, em pelo menos dois setores, transportes e comunicação, houve um crescimento da produtividade brasileira entre os anos 80 e 90. Em 1980, o trabalhador brasileiro nesses setores produzia, em média e em um ano, um valor equivalente a US$ 12 mil. Em 1996, esse valor era de US$ 16,9 mil.

O relatório da OIT indica que os trabalhadores dos Estados Unidos foram os mais produtivos do mundo em 2002 – principalmente devido ao fato de eles terem trabalhado mais horas por dia e terem tido menos feriados.

A produção por pessoa nos Estados Unidos foi de cerca de US$ 60,7 mil no ano passado, contra US$ 54,3 do país que mais produziu na Europa, a Bélgica, ou US$ 14,3 mil do Brasil.

Os americanos teriam trabalhado no ano passado uma média de 1.825 horas – aproximadamente o mesmo que os trabalhadores japoneses, enquanto nos países europeus a média variou de 1,8 mil a 1,3 mil horas.

No entanto, a produtividade por hora dos trabalhadores de três países europeus – Bélgica, Noruega e França – é maior que a dos americanos. O relatório da OIT também indica que a produtividade americana tem crescido duas vezes mais rápido do que as de trabalhadores da Europa e do Japão nos últimos sete anos.

De acordo com a agência de notícias Associated Press, o crescimento teria duas explicações: uma delas seria a facilidade do acesso dos trabalhadores americanos às tecnologias da informação e de comunicação, o que cria condições para mais produão~; a segunda explicação é que, com o acesso à tecnologia, as empresas também podem ter um crescimento nas vendas do atacado e no varejo e ter mais acesso ao mercado de capitais.