Notícias

Novo padrão digital é um negócio de bilhões

Guarulhos, 06 de maio de 2002

O novo presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Luiz Guilherme Schymura, assumiu o cargo na semana passada com uma prioridade. Definir o padrão tecnológico que será adotado para a TV Digital brasileira. Três padrões disputam a preferência do governo: o norte-americano, o europeu e o japonês. Os três grupos econômicos disputam um mercado estimado em R$ 10 bilhões até a virada da década.

A decisão sobre o padrão de TV Digital a ser adotado no País é tão importante que não ficará restrita à análise técnica da Anatel. O governo brasileiro está negociando com os três grupos interessados uma série de contrapartidas que deverão ser oferecidas ao Brasil em troca da adoção da nova tecnologia. O governo quer que a indústria brasileira fabrique as televisões digitais tanto para abastecer o mercado interno quanto para exportar. Afinal, a expectativa da Anatel é de que os brasileiros substituam, por ano, cerca de 6 milhões de aparelhos analógicos por digitais até 2010. Se os países do Mercosul adotarem o mesmo padrão brasileiro, a produção saltará para algo entre 10 e 12 milhões de aparelhos por ano. Em dez anos, a Anatel espera que 95% dos receptores de TV no Brasil sejam digitais.

Se depender das emissoras de TV aberta, o preferido é o japonês ISDB-T, considerado superior ao padrão europeu DVB-T. O norte-americano ATSC não foi considerado adequado à realidade brasileira porque enfrenta dificuldades para a captação por aparelhos em movimento. Isso impediria as transmissões digitais para trens, ônibus e automóveis. Esse problema não existe com as transmissões em padrão japonês e europeu, de acordo com os testes de campo realizados pelas TVs. Para um diretor da Anatel, o padrão americano estaria fora da disputa se os critérios fossem exclusivamente técnicos.

Mas os Estados Unidos seriam um enorme mercado para a indústria brasileira, com mais de 250 milhões de potenciais consumidores. Lá não se fabrica um único monitor de TV digital. Tudo é importado. E o Brasil ainda poderia negociar com os americanos contrapartidas importantes na área do comércio bilateral. A expectativa é de que o padrão tecnológico esteja definido até o início do segundo semestre deste ano.

A TV digital vai promover uma nova revolução na vida dos brasileiros. Com a nova tecnologia, vai ser possível interagir com a programação das emissoras de TV: o telespectador poderá votar em um programa de sua preferência, fazer um pedido de compra de determinado produto na hora em que o comercial estiver sendo exibido, assistir mais de um canal de TV ao mesmo tempo, assistir uma partida de futebol com opção de câmeras em ângulos diferentes, entre inúmeras possibilidades.

Preço

O problema, para o consumidor, será o preço do aparelho. Estima-se que os primeiros televisores digitais cheguem ao mercado custando, no mínimo, R$ 3 mil. Por esse preço, é possível comprar duas TVs de tela plana com 29 polegadas no padrão analógico. Com a popularização da TV Digital, este preço tenderá a cair, como aconteceu com o CD e vêm acontecendo com o DVD. Enquanto o consumidor não puder trocar de aparelho, será vendido um conversor de sinal (setup box) que permitirá que as TVs comuns recebam as imagens digitais.

Vinicius Dória