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Mutirão tenta segurar a crise

Guarulhos, 14 de agosto de 2007

Os bancos centrais da Ásia, Europa e Estados Unidos – e até mesmo a iniciativa privada – uniram-se para reduzir o clima de apreensão no mercado financeiro. A iniciativa e a divulgação de aumento das vendas do varejo nos EUA em julho, acima das expectativas dos analistas, contribuíram para diminuir a turbulência

Os resultados foram imediatos. Enquanto as bolsas norte-americanas fecharam com quedas bem menores que as registradas na semana passada, as asiáticas e as européias reagiram e encerraram os pregões em alta.

O problema causado pelo segmento norte-americano de hipotecas de alto risco (subprime), no entanto, está longe de ser solucionado, e aumentam os temores de quebras de algumas instituições financeiras. Com eles, cresce a aversão aos riscos. Ou seja, as instituições de crédito temem emprestar dinheiro umas para as outras, obrigando os bancos centrais a despejar recursos no mercado para garantir a liquidez do sistema. A exemplo do que ocorreu no final de semana passada, essas instituições realizaram ontem a terceira intervenção, na tentativa de acalmar os investidores.

Atuação conjunta – O Banco do Japão injetou US$ 5,11 bilhões; o Banco Central Europeu (BCE), US$ 65 bilhões; e o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, US$ 2 bilhões. Desde a última quinta-feira, apenas o Fed colocou na economia US$ 64 bilhões, a maior operação desde a crise causada pelos atentados do 11 de setembro de 2001. De quinta até ontem, as instituições européias, asiáticas, americanas, canadenses e australianas, entre outras, despejaram no mercado mais de US$ 395 bilhões. “Os bancos centrais estão tentando impulsionar a confiança mais do que qualquer outra coisa, enquanto os mercados aguardam novas informações”, disse Robert Prior-Wandesforde, economista do HSBC, em Cingapura.

Outro motivo de alívio foi o anúncio conjunto do Goldman Sachs e outros investidores, de que investiram mais US$ 3 bilhões no fundo Global Equity Opportunities, que teve pesadas perdas ( veja texto na página E3 ). Além disso, as vendas nos EUA, especialmente as no varejo, aumentaram 0,3% em julho, acima da previsão de alta de 0,2%.

A conjugação desses fatores contribuiu para melhorar o humor dos investidores. Na Ásia e na Europa, as principais bolsas conseguiram recuperar parte das perdas da sexta-feira. Tóquio encerrou o dia em alta de 0,2% e Londres, com elevação de 2,99%.

O mercado acionário americano, por sua vez, que vinha atuando com valorização durante boa parte do dia, fechou o pregão praticamente estável. O Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, registrou leve queda de 0,02% e o Nasdaq, termômetro do setor de tecnologia, caiu 0,1%. O índice Standard & Poors 500 teve desvalorização de 0,05%.

Sem previsão – O economista do Dresdner Kleinwort, Kevin Logan, avalia que os mercados estão passando por um “desengajamento”, no qual investidores retiram liquidez do setor financeiro por conta das incertezas quanto à capacidade de pagamento de seus parceiros. “Isso pode ser superado em algumas semanas”, disse. “Ou pode exigir uma ação mais agressiva do Fed para restaurar a sensação de que os mercados estão funcionando normalmente”, ponderou. Ou seja, os analistas não arriscam prever quando será o arrefecimento da crise. ( Agências)