Inverno sem frio atrapalha os lojistas
A temporada de frio em São Paulo será pequena este ano. A cidade está sofrendo os efeitos do fenômeno conhecido como El Niño, que impede a chegada das frentes frias características dessa época. O que parece, à primeira vista, uma simples alteração climática, na verdade se transformou em uma grande dor de cabeça para comércio da cidade. Sem as temperaturas baixas do inverno, os casacos, malhas e roupas mais pesadas ficam “encalhadas” nas lojas.
O inverno rigoroso deixou de ser um apelo forte para as vendas. “Nesse momento, o lojista precisa ter uma sensibilidade muito grande para não levar prejuízo”, diz o presidente do Sindicato dos Lojistas de São Paulo, Ruy Nazarian. Para Nazarian, a saída é apelar para outras formas de incentivo às vendas, como a antecipação das liquidações de inverno. Nessa hora, vale tudo para evitar o prejuízo. “É muito mais caro manter a mercadoria de inverno estocada do que a de verão.” Isso porque as peças para o frio ocupam mais espaço, pois são maiores e mais pesadas. Os desastres causados por um inverno mais fraco puderam ser sentidos no comércio já pelo resultado das vendas para o Dia dos Namorados. “Essa sempre foi uma época em que as vendas melhoravam muito, mas, este ano, elas poderiam ter sido 30% maiores caso o frio tivesse chegado em maio.”
Clima ameno – Mas, se os comerciantes ficarem dependendo exclusivamente do frio para aquecerem suas vendas, os resultados devem ser frustantes neste inverno. “O que abaixa a temperatura no inverno é a passagem contínua das frentes frias e, este ano, elas não estão chegando a São Paulo”, explica a pesquisadora Iracema Cavalcanti, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Os dados do Centro de Pesquisas mostram que apenas uma frente fria entrou no Estado no mês de maio e outra no mês de junho. Enquanto a média para a época é de seis frentes frias por mês. Segundo Iracema, as frentes, que estão chegando normalmente ao Sul do País, acabam sendo desviadas para o oceano antes de atingirem São Paulo. “O que verificamos é que a atmosfera começa a apresentar modificações de circulação, mudando a trajetória das massas de ar”, diz. O principal motivo dessas alterações seria o efeito do fenômeno El Niño, que provoca o aquecimento anormal no oceano Pacífico Central e Leste e acaba influindo em regiões distantes, como o Sudeste do Brasil. “São Paulo é uma região de transição entre o Sul, onde as frentes passam, e o Nordeste, que é bastante afetado pelo El Niño. Por isso, pode sofrer muitas alterações”, explica Iracema Cavalcanti. Embora ainda seja cedo para decretar o fim do inverno deste ano, as estatísticas não têm se mostrado favoráveis para os lojistas.
No último mês de junho, por exemplo, as temperaturas variaram entre 28º (máxima) e 16º (mínima) em São Paulo, enquanto que o normal para a época é uma temepratura média entre 16º e 18º.
Estela Cangerana