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Economia brasileira dá sinais de tímida reação

Guarulhos, 22 de agosto de 2003

Apesar do pessimismo que imperava antes do último corte da taxa de juros, na quarta-feira (20/08), a economia brasileira já dava tímidos sinais de reação. Depois do fundo do poço que foi o segundo trimestre do ano, alguns indicadores começaram a melhorar no fim desse período, entre eles o número de horas trabalhadas, a fabricação de bens duráveis e a produção e a venda de carros.

Dados preliminares indicam que a tendência pode se acentuar neste mês, principalmente depois da queda de 2,5 pontos percentuais nos juros básicos da economia. Com o corte mais acentuado do que estimava o mercado, alguns analistas acreditam que a reativação esperada para o quarto trimestre poderá ser antecipada para o terceiro.

“Em julho houve um indício de recuperação em relação a junho e, em agosto, também há uma recuperação diante de julho”, diz Cezar Rochele, economista da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), que, a cada mês, faz uma sondagem informal com cerca de 30 empresas filiadas à entidade. Os números oficiais da Abinee são trimestrais e só serão divulgados em outubro.

Estudo do economista Andrei Spacov, do Unibanco, indica que setores específicos da economia começaram a reagir em junho, depois de forte desaceleração no período de janeiro a maio. Os números agregados mostram que houve elevação no número de horas trabalhadas e das vendas no varejo, enquanto a produção industrial e a renda média do trabalhador continuaram a cair.

Mas se forem isolados certos componentes desses dados agregados, a tendência de reação é mais evidente. O principal indício, para Spacov, é o aumento de 2,6% na produção de bens duráveis em relação a maio. O indicador foi negativo em todo o período de janeiro a maio, mês em que registrou queda de 5,3%.

Segundo o economista, o setor de bens duráveis reage com maior rapidez que o restante da indústria à queda dos juros reais. Apesar de a Selic só ter caído de forma expressiva na quarta-feira, de 24,5% para 22%, Spacov observa que a taxa de juros de longo prazo (um ano) registra queda desde fevereiro. Estava em 30% e agora encolheu para 21%.

É essa taxa, descontada a expectativa de inflação futura, que é levada em conta pelos empresários em suas decisões de investimentos, e não a Selic, afirma. O efeito da queda logo deverá ter impacto sobre os demais setores.

O economista José Affonso Pastore aposta na reação imediata da economia. “A recuperação econômica vai começar a partir de agora. Os chamados bens duráveis devem sofrer forte aceleração de demanda.

Isso ocorrerá não apenas por conta da queda de 2,5 pontos percentuais na taxa Selic, mas por causa das reduções anteriores na taxa e da queda na alíquota do compulsório ocorrida em julho”, disse ele.

O governo já promoveu três cortes na taxa básica de juros nos últimos meses e reduziu de 60% para 45% a parcela dos depósitos à vista que os bancos são obrigados a manter imobilizados no Banco Central.

Dados da Federação do Comércio do Estado de São Paulo ainda mostram retração nas vendas. A diferença em relação ao estudo de Spacov é que os números são comparados com igual mês de 2002, quando as vendas estavam em alta, e não com o mês anterior.

“Aparentemente, estamos iniciando a curva ascendente: a inflação parou de subir, e com isso o salário real deixou de perder valor, e o desemprego teve uma pequena redução, o que aumentou a massa salarial”, diz Fábio Pina, assessor econômico da entidade.

Claudia Trevisan