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Desafio do século é fazer justiça social e erradicar a fome

Guarulhos, 23 de setembro de 2003

Em seu discurso de abertura da 58ª Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o maior desafio deste século é a luta por justiça social. Segundo ele, isso só será possível através do respeito à democracia, do direito internacional e da erradicação da fome.

– A verdadeira paz vem da democracia, do direito internacional e, sobretudo, da erradicação da fome. O maior desafio da Humanidade e o mais belo é justamente esse: humanizar-se. Temos que lutar pela justiça social – defendeu o presidente em seu primeiro discurso na sede da ONU, em Nova York.

Segundo Lula, sua principal arma tanto na política interna quanto externa será o diálogo democrático.

– O diálogo democrático é o melhor instrumento de mudança. Estamos o empregando não só na política do país, mas também para conseguir alianças internacionais.

Lula voltou a fazer um apelo para que a comunidade internacional combata a fome e disse em seu discurso que é inaceitável que, ainda hoje, um quarto da população mundial não tenha o que comer.

– Faço o mesmo apelo que fiz em Davos. Precisamos nos engajar na guerra contra fome e a miséria. Erradicar a fome no mundo é um imperativo moral e político. Sabemos que é factível se houver vontade política para isso – disse o presidente.

Lula lembrou que 24 mil pessoas sofrem de doenças devido à desnutrição.

– É inaceitável que, no século dos avanços científicos e tecnológicos, isso ainda ocorra.

O presidente citou a criação do programa Fome Zero, que descreveu como uma ação “que atende quatro milhões de pessoas que não tinham o que comer” e que tem como meta, até o fim do governo, extinguir a fome no país. Lula convocou os demais países do mundo a entrar numa cruzada contra a fome.

– Vamos agir para acabar com a fome ou imolar nossa credibilidade na omissão? – indagou.

Lula incluiu em seu discurso as conquistas de sua política econômica nos nove meses de governo e falou do controle da inflação. Segundo ele, o país está criando condições para um novo ciclo de crescimento sustentável.

No início do discurso, o presidente fez uma homenagem a Sérgio Vieira de Mello, morto em atentado à sede da missão da ONU no Iraque, no mês passado.

– Ele sempre acreditou no diálogo e persuasão, exerceu em nome da ONU um humanismo tolerante, pacífico e corajoso que espelha a alma libertária do Brasil – disse Lula, para em seguida acrescentar:

– A melhor forma de honrar sua memória é redobrar a defesa da dignidade humana onde quer que ela esteja ameaçada.

O presidente ressaltou a importância da ONU na intermediação de conflitos e criticou indiretamente a política externa dos Estados Unidos. Lula disse que não adianta vencer uma guerra isoladamente se ela não é capaz de construir uma paz duradoura. Citando uma frase de Mahatma Gandhi, o presidente observou que “a violência, quando parece promover o bem, é um bem temporário, enquanto o mal que ela promove é permanente”. Segundo Lula, “é hora de chamar a paz com seu nome próprio: justiça social”.

Ao defender a reformulação da ONU e sua importância nas negociações dos conflitos mundiais, o presidente disse que a instituição não foi criada para remover escombros, numa crítica direta ao pedido dos Estados Unidos para que seja formada uma força multilateral para a reconstrução do Iraque com o apoio da ONU. Ainda segundo Lula, a crise no Iraque só será resolvida num processo de negociação em que a ONU tenha papel central e não seja mera telespectadora.

– A ONU não foi concebida para remover os escombros dos conflitos que não pôde evitar – disse o presidente.