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BC vai usar dinheiro do FMI para acalmar mercado

Guarulhos, 13 de junho de 2002

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, vão anunciar hoje que o Brasil exercerá o direito de saque de US$ 10 bilhões relativos ao acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), cuja vigência termina no fim do ano e dos quais cerca de US$ 5 bilhões estão disponíveis imediatamente. O restante do dinheiro deverá ser aprovado em reunião regular da diretoria executiva do Fundo, nos dias 19 ou 26 de junho. Os recursos servirão para reforçar as reservas brasileiras, neste momento de incertezas no mercado financeiro.

Ontem, nem boas notícias nas áreas de inflação e arrecadação de tributos diminuíram a queda-de-braço entre o mercado e o Banco Central. O mercado forçou a mão e os ativos brasileiros voltaram a despencar. Refletindo a crise de confiança no mercado de títulos, o dólar fechou em alta de 3,06%, cotado a R$ 2,795, o maior nível desde setembro do ano passado, logo após os ataques terroristas nos EUA. O risco país, que indica quanto o País teria de pagar em juros para captar recursos no exterior, disparou e chegou a superar os 1.300 pontos, ou 13 pontos porcentuais além do que paga o Tesouro americano, deixando o Brasil só atrás da Argentina e da Nigéria. Também os juros no mercado doméstico voltaram a crescer.

O mercado acentuou o nervosismo à tarde, depois que o BC foi malsucedido no leilão de rolagem parcial do vencimento de cerca de US$ 2,354 bilhões em títulos cambiais no dia 19. Além de não conseguir vender todo o lote, o BC voltou a pagar taxas elevadas, mesmo com o vencimento dos títulos em dezembro, antes da posse do novo presidente. Ou seja, o mercado doméstico está resistindo a emprestar para o governo por causa da crise de confiança e porque já está repleto de títulos, dizem operadores.

Por enquanto, eles afirmam, o mercado não tem apetite por títulos públicos de qualquer prazo. Recusam até mesmo papéis com juros corrigidos pelo dólar. Já que o mercado está saturado de títulos, uma forma de conter a alta da moeda americana, dizem analistas, seria o BC atender à demanda do mercado por meio da venda diária de dólares de suas reservas. Mas o próprio BC diz que a demanda por dólares está fraca. Segundo dados divulgados pelo banco ontem, entre entradas e saídas de dólares, o Brasil recebeu US$ 150 milhões na terça-feira e acumula um saldo positivo de US$ 600 milhões no mês.

O stress atual entre o BC e o mercado começou por causa da perda de muitos fundos, que tiveram de antecipar uma mudança de regra contábil, com títulos do governo. Para pagar clientes que sacaram (ou que ainda podem sacar) recursos dos fundos por causa das perdas, os administradores venderam títulos do governo, derrubando os preços desses papéis e causando novos prejuízos. Os bancos não estariam dispostos a comprar títulos que terão dificuldade para vender caso precisem de dinheiro rapidamente.

Com o salto dos juros futuros no mercado doméstico, dispararam também os juros em dólar, ou o swap cambial. Quando esses juros em dólares sobem, contaminam os juros dos títulos da dívida externa, já que, na prática, são ativos equivalentes para o investidores estrangeiro. Para o vice-presidente da área de mercados emergentes do JP Morgan em Nova York, Drausio Giacomelli, existe também uma novidade na percepção do risco da dívida pública brasileira. “O Brasil era visto como um país que não teria dificuldade com a dívida interna”, diz. Agora, com o mercado recusando títulos oferecidos pelo BC, essa percepção começa a mudar.

No fim do dia, houve uma leve melhora nas cotações, em reação à aprovação da CPMF. O risco Brasil baixou para 1.297 pontos.

A Bovespa foi o mercado que fechou em menor queda. O Ibovespa perdeu 0,64%, em 12.132 pontos, variando entre uma alta de 1,55% e queda de 1,26%, com volume de R$ 935,916 milhões ou US$ 334,853 milhões.

Ariosto Teixeira e Priscilla Murphy