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Bancos cobram mais por duplicatas

Guarulhos, 13 de junho de 2003

As taxas para desconto de duplicatas e de cheques nos bancos ficaram acima das cobradas pelas factorings em maio, pelo segundo mês consecutivo.

As empresas de factoring adiantam recursos recebendo como garantia duplicatas ou cheques, e cobram uma taxa. Historicamente, suas taxas eram superiores às dos bancos, mas esse quadro vem mudando desde abril.

Segundo especialistas, essa nova tendência deve se manter, pelas exigências cada vez maiores pedidas pelos bancos para concederem crédito, o que está empurrando as empresas para outras alternativas.

Em junho do ano passado, a taxa média cobrada pela factoring para desconto de duplicatas e cheques era de 3,93% ao mês. Nos bancos, essas operações custavam, há 12 meses, 3,78% para duplicatas e 3,49% para cheques.

No mês passado, enquanto as factorings cobraram em média 4,43% ao mês, os juros dos bancos subiram para 4,91% para duplicata e 4,71% nos cheques.

Em abril, enquanto a taxa média dos bancos no desconto de duplicata era de 4,89% e a do desconto de cheques ficava em 4,68%, a taxa (ou fator) cobrada por uma empresa de factoring era de 4,40.

Taxa extra também cai

A esse fator aplicado pelas empresas de factoring é somada uma taxa de prestação de serviço, equivalente a cerca de 1% do valor do título. O consultor jurídico Antonio Carlos Donini, que presta serviços para cerca de 80 empresas de factoring e faz um acompanhamento regional das taxas cobradas pelo setor, confirma que tanto o fator (ou deságio) como a taxa de prestação de serviço cobrados pelas empresas vem caindo.

Os bancos também cobram um valor além da taxa de juros ” que, nesse caso, não vêm recuando. São os encargos operacionais e fiscais, que oscilam nos diferentes bancos e chegam a superar 1% em alguns financiamentos.

Margens reduzidas

Para Donini, o fraco desempenho da economia e a reduzida oferta de crédito estão levando as empresas que operam no mercado de factoring a negociartaxas mais atrativas para “vender” seus cheques ou duplicatas.

“Como essas empresas precisam fechar negócios para se manter no mercado, acabam reduzindo suas margens de ganho”, afirmou o consultor. “É a alternativa que elas têm para continuar competitivas”.

Também para o professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), José Castanhar, a prática de taxas mais baixas pelas factorings está associada à estratégia de não perder mercado.

Segundo ele, os bancos vêm garantido sua lucratividade com a compra de títulos públicos e, por isso, reduzem “cada vez mais” o interesse em aumentar a oferta de crédito ” seja pelo capital do giro, seja com o desconto de recebíveis (cheques, duplicatas, faturas de cartão de crédito).

Essa postura significa aperto de crédito e as empresas, impossibilitadas de recorrer aos bancos, acabam buscando no factoring uma alternativa de financiamento. Com isso, afirma Castanhar, “a competitividade entre as empresas que fazem esse tipo de serviço aumenta, e as margens de ganho caem”.

A inadimplência em queda e a expectativa de corte da taxa do juro básico deveriam estimular a queda das taxas de juros em todas as linhas de financiamento, lembra o especialista.

No entanto, essa queda está sendo observada primeiro nas factorings.

Valdete de Oliveira