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ACSP alerta: alta dos juros desacelera a economia

Guarulhos, 28 de dezembro de 2004

O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Guilherme Afif Domingos, fez um alerta ao Comitê de Política Monetária (Copom): os seguidos aumentos nas taxas de juros estão causando um desaquecimento nas vendas, sobretudo de bens duráveis. Os dados do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) – que mede as vendas a prazo -, mostram o recuo de 5,5% em novembro, para 3,2% em dezembro.

Por isso, explica Afif, tanto a manutenção como novos aumentos dos juros representam uma ameaça ao crediário, que sustentou as vendas internas até agora, com um efeito político colateral perigoso. “Poderá haver um desaquecimento da economia no primeiro trimestre e um aquecimento do debate político em cima do desemprego”.

Isso, segundo Afif, poderá estimular grupos dentro do governo que querem “fazer pirotecnia política”, pondo em risco a austeridade nos gastos. “O que não é aconselhável neste momento”. Especialmente, quando o ano termina com sinais de uma reversão das expectativas do comércio em dezembro e mostra que prevaleceram as vendas de semi-duráveis, com preços menores. Prova é que as consultas ao UseCheque – que mede as vendas a vista – subiram de 4,9% em novembro para 8,7% em dezembro.

Balanço – O presidente da ACSP disse que o comércio apresentou um bom movimento em 2004. Os indicadores apurados pela entidade mostram que as consultas ao SCPC deverão fechar o ano com crescimento de 6% e as consultas ao UseCheque com 2,3%; cerca de 4,2% na média, acima do ano passado.

Outros dados importantes: os registros recebidos (nomes de inadimplentes que entraram para o SCPC) cresceram 7,3% este ano. Em compensação os registros cancelados (nomes que saíram do cadastro) apresentaram um número ainda maior (12%). Isso mostra que muitos consumidores estão retornando as compras por crediário.

Contudo, Guilherme Afif lembra que esse movimento se deve mais ao crescimento do emprego do que a recuperação da renda do consumidor que permanece comprimida. Além disso, ele lembrou que as exportações e o quadro externo favorável ajudaram no crescimento em 2004. Mas, observou, que esse quadro poderá não se repetir em 2005, devido ao aumento da taxa básica de juros nos Estados Unidos e com o arrefecimento do crescimento da economia chinesa.

O presidente da ACSP, também salientou que o mercado interno ao longo do ano foi puxado pela expansão do crediário, com taxas menores e prazos maiores, o que estimulou as vendas dos bens duráveis, com maior valor agregado, como eletrodomésticos, móveis e veículos.

Perigos – Para Guilherme Afif, o mês de dezembro deu um sinal de alerta: “O efeito contracionista do aumento dos juros, iniciado em setembro, já está mostrando seus resultados”.

Para ele, em breve será possível detectar se o comércio de bens duráveis está muito estocado. Se estiver, os novos pedidos para a indústria poderão ser bem menores do que o esperado em janeiro e fevereiro. “Por isso, um novo aumento dos juros é um grande risco para o crescimento sustentável”. Some-se ainda a preocupação do consumidor em manter uma reserva de caixa para as contas de início de ano, como IPVA, IPTU, matrícula e material escolar.

A última ata do Copom deixou dúvidas sobre a trajetória futura da taxa básica de juros. “A desaceleração do ritmo da atividade econômica no quarto trimestre deste ano parece sinalizar que o crescimento da economia, em 2005, deva ser inferior ao registrado em 2004”, projetou Afif, com efeitos negativos sobre a recuperação do emprego e da renda.

Caso esse quadro se confirme, avaliou Afif, o debate sobre o processo sucessório poderá ser antecipado e afetar o desempenho da economia. “Corremos o risco de o governo adotar medidas que aumentem os gastos e afetem os resultados das contas da União”.

O presidente da ACSP também salientou que esse comportamento poderá frustrar as expectativas dos que acreditam na manutenção de um aumento do superávit primário, como meio para reduzir os juros mais adiante. O aumento do salário mínimo para R$ 300, observou Afif, pode ser um sinal de que isso já esteja ocorrendo na área social.

Impostos – O presidente da entidade insistiu que a elevada carga tributária continua sendo um entrave para o crescimento. “A âncora fiscal impede o País de ter um desenvolvimento sustentável”. Por isso, a associação comercial vai intensificar sua campanha de conscientização do cidadão como “tax payer”, ou seja, como pagador de impostos, sob o lema “Pago, logo exijo e participo”.

Nesse sentido, a ACSP também continuará promovendo o Feirão do Imposto e divulgando a Calculadora do Imposto (www.contribuintecidadao.org.br). Além disso, Afif informou que a entidade reforçará a luta para baixar o spread bancário (taxa de risco) por meio da adoção do cadastro positivo, um importante instrumento para garantir taxas menores para o consumidor bom pagador.

Acrescentou que o projeto técnico, ou anti-projeto do cadastro positivo, deverá ser concluído até meados de janeiro para ser enviado para votação no Congresso Nacional. O texto final do projeto deverá ser acertado numa reunião na sede da ACSP, junto com outras entidades civis e integrantes de ministérios e órgãos do governo federal. “Acredito sim que seja aprovado logo em seguida”, concluiu Afif.

Sergio Leopoldo Rodrigues