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David Bowie foi tão inovador nos negócios quanto na música

Guarulhos, 12 de janeiro de 2016

O inglês David Bowie, que morreu neste domingo, 10, após lutar por 18 meses contra o câncer, foi tão inovador nos negócios quanto em sua música. O termo “Bowie Bond” foi cunhado em 1997 quando o artista levantou US$ 55 milhões de investidores ao prometer a eles renda que viria dos direitos e royalties futuros de um catálogo de 25 álbuns (um total de 287 canções). A sacada foi vender os direitos futuros de suas músicas gravadas antes de 1990 – ao invés de esperar por anos para receber o montante.

O homem por trás do Bowie Bond era o banqueiro David Pullman, que afirma que esta foi a primeira vez que um músico em toda a história vendeu a propriedade intelectual de suas canções através de títulos. O modelo de negociação e venda dos direitos tornou-se referência para muitos músicos, como Rod Stewart.

“Um grande músico, um grande artista e ainda por cima um oportunista financeiro”, descreveu Dan McCrum, no Financial Times, ao falar do acordo. Os investidores ganhariam um bônus de 10 anos – a uma taxa de juro anual de 7,9%. A Prudential Insurance Co. of America comprou toda a série.

Bowie fechou um acordo de licenciamento com a EMI para o seu catálogo dando aos investidores o direito de usufruir de 25 álbuns lançados entre 1969 e 1990. Estes incluíram seus trabalhos mais populares – “Ziggy Stardust”, “Aladdin Sane”, “Hunky Dory” e “Lets Dance” -, bem como gravações ao vivo e músicas gravadas em estúdio, mas não lançadas. A proposta também incluía renegociar esse material com outra distribuidora e gravadora. Para Bowie, o dinheiro era importante para recuperar o direito de algumas músicas suas que estavam em poder de seu antigo agente, o que ele conseguiu.

O acordo foi algo novo não somente no meio artístico. Também surpreendeu em Wall Street. Criou a securitização da propriedade intelectual – a transformação de ativos, neste caso, direitos autorais, em títulos. Os títulos, os Bowie Bonds, ganharam até grau de investimento da agência Moodys. Segundo o jornal espanhol Economista, o acordo fez com que Bowie fosse visto como inovador.

Uma análise do Financial Times aponta que Bowie considerou vender seus originais nos anos 1990 porque na época o mundo mudava substancialmente com a chegada de novas tecnologias. “Eram os primeiros dias da internet, os serviços de compartilhamento já começavam a aparecer e o Napster, para compartilhar música, já ganhava muita popularidade como um modo de ouvir música de graça”, escreve o jornal. “Mais uma vez, ele estava à frente de seu tempo”.