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Quando a emoção supera a razão

Guarulhos, 14 de outubro de 2008

Foi-se o tempo em que o investidor acreditava que o preço de uma ação podia ser calculado matematicamente ou em que buscava conhecer os fundamentos da empresa para decidir quanto pagar por um pedaço dela.

A coerência sumiu dos mercados ultimamente e o que vimos com a montanha-russa das bolsas de valores do mundo é que a crise levou por água abaixo toda a teoria econômica. Não adianta os macroeconomistas, o presidente da República ou o do Banco Central dizerem que o Brasil não será afetado, não adianta as empresas soltarem comunicados de fatos relevantes e balanços provando que estão bem financeiramente: o investidor – grande ou pequeno – está correndo da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Mas o que está acontecendo? Por que eles, que são experts em contas, estão ignorando os cálculos?

A resposta não é encontrada em nenhum livro ou teoria econômica. A euforia e o sobe-e-desce das bolsas, no entanto, podem ser explicados pela psicologia. O agente que opera no mercado financeiro é humano e, em uma situação de medo, como a de perder muito dinheiro, ele corre, como fazia no Pleistoceno (de 1,6 milhão a 10 mil anos atrás), quando desenvolveu essa habilidade.

Manada – A explicação, a grosso modo, é que o cérebro humano tem uma região para cuidar da razão, formada por córtex e neocórtex, e outra para emoção, o sistema límbico. Nesse sistema, fica localizada a amígdala cortical, que é ativada em momentos de forte emoção, como medo e euforia. Ao ser ativada, essa amígdala “seqüestra” e concentra todos os esforços do cérebro humano, que não consegue pensar racionalmente e age por impulso.

No Pleistoceno, isso significava correr de um bicho; na bolsa de valores e na crise atual, o humano não corre, mas vende, vende tudo o que tem. “Ao sentir medo, todas as outras áreas do cérebro são momentaneamente anuladas para que se possa sobreviver. Isso foi fundamental no passado e, em certos momentos, esse mecanismo cerebral gera escolhas ótimas – é o caso, por exemplo, quando alguém precisa salvar uma criança do afogamento. Mas ele também é capaz de complicar a vida em sociedade moderna, impedindo cautela e ponderação na decisão de investimento”, afirma a estudiosa em psicologia econômica Patrícia Fonseca.

Esse comportamento anda desestabilizando a Bovespa e, pior, provocando o efeito manada. “Sem saber o que fazer, o pequeno investidor fica refém de quem ele acredita ter informações privilegiadas e corre atrás dos gestores de grandes fundos. O ser humano considera melhor perder em conjunto do que arriscar sozinho. Isso dá um alento, a pessoa não se sente uma azarona”, diz Patrícia.