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O impasse do câmbio

Guarulhos, 10 de janeiro de 2005

Exportadores defendem mudanças na legislação para reduzir impactos da depreciação da moeda americana

As empresas brasileiras deverão exportar menos automóveis, auto-peças, aeronaves, navios e máquinas neste ano. O alerta parte de setores da indústria que bateram recordes de vendas feitas ao exterior no ano passado e que enxergam no câmbio apreciado uma ameaça ao desempenho dos produtos industrializados. O risco de perda do dinamismo levou a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) a contratar consultores com passagem pelo Banco Central para elaborar uma proposta de atualização da legislação cambial.

Entre as medidas defendidas está a ampliação do tempo de 20 dias para que as empresas possam converter os dólares das vendas em reais.

– Vários setores perderam competitividade por conta do câmbio, que chegou a R$ 3,20 no primeiro semestre de 2004 e baixou para R$ 2,65 no fim do ano. A diferença de 55 centavos acarreta uma perda de 17% de paridade cambial e isso é significativo – aponta o presidente da Funcex, Roberto Giannetti da Fonseca.

Segundo informou, os trabalhos de revisão da legislação do câmbio foram iniciados neste mês e deverão ser concluídos em seis meses. Ao longo desse tempo, os consultores vão se debruçar sobre leis que têm mais de 20 anos.

– A legislação é antiquada, das décadas de 70 e 80, quando o câmbio era centralizado e havia uma situação de moratória. Possuímos uma experiência de seis anos de câmbio flutuante e ainda não atualizamos as leis. Há um desequilíbrio – argumentou Roberto Giannetti.

A questão da desvalorização da moeda americana está diretamente relacionada às exportações de manufaturados. Em grande parte devido a um dólar valorizado, os embarques dos produtos industrializados cresceram 33,5% em 2004 e geraram US$ 52,949 bilhões em receitas. Com isso, a participação dos itens de valor agregado no total da pauta atingiu 54,9%, um reforço para que o Brasil deixe de figurar como fornecedor mundial de matérias-primas e produtos agrícolas.

Diante da persistência do dólar abaixo de R$ 3, alguns setores da indústria projetam vendas menores. Os fabricantes de máquinas e equipamentos – que em 2004 ampliaram as exportações em 39,5% e encerraram o ano com US$ 6,178 bilhões – calculam queda entre 10% e 15% nas receitas.

– As vendas de 2004 refletem a alta do dólar em 2003, em parte de 2004 e isso deve perdurar até junho – observa o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello.

A orientação, disse, é que os contratos acertados sejam cumpridos integralmente para que se evite o fechamento do mercado externo para as empresas brasileiras.

– Não há como renegociar os contratos e, como as empresas que não conseguirem cumprir os compromissos estarão riscadas do comércio internacional, vamos cumprir o acordado – frisa.

No segmento de bens de capital, a desaceleração ocorrerá também em função da valorização do aço, que participa com 17% no custo de produção de máquinas e equipamentos. A Abimaq informou que o preço do aço aumentou 100% em 2004.

Segundo informou Newton de Mello, alguns fabricantes partiram para a negociação das vendas em euro.

– Para o Brasil seria bom diversificar a pauta. Há superconcentração em poucos produtos, poucas empresas e praticamente uma única moeda. Seria ótimo se pudéssemos diversificar moedas, mas ao vender em euro o exportador elimina o risco cambial do importador e assume esse risco sozinho – explicou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Do total das exportações brasileiras, 96% são feitas em dólar e o restante em outras moedas.

Luciana Otoni