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Fraude atinge 69% das empresas brasileiras

Guarulhos, 06 de dezembro de 2004

A fraude tem sido um dos principais problemas enfrentados pelas empresas. De acordo com a terceira pesquisa bienal realizada pela KPMG, 69% das empresas nacionais já sofreram algum tipo de fraude. Na pesquisa anterior, em 2002, 76% dos entrevistados afirmavam ter sido vítima desse crime. Em 2000, o percentual correspondia a 81%.

Apesar de ter apresentado uma pequena redução nos últimos anos, o número ainda é bastante preocupante. “Quase 70% dos entrevistados disseram ter sofrido algum tipo de fraude nos últimos dois anos. E 10% desconhecem se houve fraude em sua empresa e isso não significa que não houve”, comenta o sócio da KPMG, Werner Scharrer, acrescentando que é “um problema bastante sério”.

O levantamento foi realizado com mil empresas atuantes no Brasil, sendo que 57% delas são do ramo industrial e 46% do faturamento das empresas envolvidas na pesquisa varia entre R$ 250 milhões e R$ 1 bilhão por ano.

A origem do ato fraudulento está dentro da própria empresa. De acordo com a pesquisa, os funcionários são os principais fraudadores. Eles representam 58%, um crescimento de 14,5% no índice do empregado fraudador, em relação à pesquisa anterior.

Em segundo lugar aparecem os prestadores de serviço, com 18%, seguido pelos fornecedores, com 14%. Em terceiro lugar estão os clientes, com 8% das fraudes cometidas.

“A fraude é um problema no mundo inteiro e não é privilégio do Brasil”, comenta o executivo, afirmando que deve ser uma preocupação de todos.

Werner Scharrer lembra ainda que as conseqüências e os impactos para as companhias são grandes. “Recentemente, tivemos o caso da Parmalat e o da Enron que foram vítimas de fraudes e teve todo esse impacto”, lembra ele. “É claro que são situações extremas, mas é um exemplo do que pode ocorrer com uma empresa vítima de fraudes”, comenta o executivo.

Os funcionários da área de suporte são os que mais fraudam, segundo a pesquisa. Eles foram responsáveis por 57% das perdas incorridas nas organizações. Werner Scharrer comenta, no entanto, que os funcionários em posição de chefia e gerência também foram responsáveis por uma considerável parcela dos casos. A chefia, de acordo com a pesquisa, respondeu por 26% das fraudes e a gerência por 16%. A presidência e diretoria foram responsáveis por 1% das perdas das sociedades.

“Apesar das fraudes cometidas por funcionários de suporte serem mais freqüentes, os crimes cometidos pelo alto escalão são sempre mais sérios e danosos tanto para a saúde financeira quanto para a imagem e reputação da organização”, comenta Werner Scharrer.

“Isso acontece uma vez que os funcionários tem limites e alçadas, diferentemente da alta gerência que, por assumir maior responsabilidade, tem mais liberdade e poder”, comenta ele. “O impacto da fraude de um funcionário de suporte é menos significativa. Enquanto que a do alto escalão o valor é mais alto e pode até acabar com a empresa em alguns casos”, complementa o executivo.

O sexo masculino é responsável pela maioria dos crimes. Os homens responderam por 83% das perdas nas organizações, enquanto que as mulheres ficaram com 17% dos casos.

A idade do funcionário fraudador foi outro item analisado pela pesquisa. De acordo com o levantamento da KPMG, 70% dos fraudadores têm entre 26 anos e 40 anos. Em seguida estão os funcionários que têm entre 41 anos e 55 anos, com 20% dos casos. Empregados com menos de 25 anos são responsáveis por 9% das fraudes corporativas e com mais de 55 anos responderam por 1% de todos os atos fraudulentos ocorridos nos últimos dois anos.

O tempo que o funcionário tem na empresa influencia bastante na hora de cometer uma fraude. Primeiro porque ele precisa conhecer o funcionamento da companhia e como são os controles. Segundo porque precisa ocupar um cargo que permita cometer fraudes. Isso faz com que 38% dos funcionários que já cometeram o crime tenham entre dois anos e cinco anos de empresa. “A maioria dos fraudadores está na empresa há mais de dois anos”, comenta o executivo.

Com menos de dois anos de emprego está o menor número de fraudadores, cerca de 19% dos casos. Em outras faixas de tempo de casa há quase que um empate. Funcionários que têm entre seis anos e dez anos de empresa corresponderam a 21% dos casos de fraudes corporativas. E os empregados que estão trabalhando há mais de dez anos foram responsáveis por 22% das perdas que as companhias tiveram nos últimos dois anos.

Remuneração do fraudador – A maioria dos funcionários fraudadores tem remuneração superior a R$ 1 mil e inferior a R$ 4,5 mil. “Vários são os motivos que levam à fraude na companhia”, comenta o executivo. “A ganância, vingança e falhas nos controles internos são alguns deles”, diz. Ele lembra ainda que com o passar do tempo do funcionário na companhia, os controles tendem a relaxar e é nesse momento que ocorrem as fraudes.

O combate ao crime tem sido um desafio. “A prevenção não está sendo entendida como um investimento pela empresa porque custa alto e o resultado é sentido a médio e longo prazo”, explica Werner Scharrer. “Mas essa prevenção é importante porque garante a sustentabilidade do lucro e os empregos”, complementa ele. O executivo explica que na maioria das vezes a empresa espera ter a perda para tomar alguma providência. Para ele, a intensificação de controles internos com procedimentos rigorosos, governança corporativa, manuais de ética e conscientização dos funcionários poderia contribuir para reduzir o número de fraudes dentro das empresas.

Aos poucos os empresários começam a se mobilizar. A pesquisa revela que 51% das empresas já adotam procedimentos de verificação de antecedentes para novos funcionários de alto escalão. Um crescimento de 12% em relação a 2002. Os processos para tentar recuperar dinheiro desviado em fraudes também começam a surtir efeitos. “No entanto, grande parte do que é desviado não é recuperado porque tem o envolvimento de laranjas.”

Para 45% dos entrevistados a fraude é uma ameaça à empresa e para 29%, provavelmente é uma ameaça. Além disso, 55% diz que a tendência futura é de um aumento nas fraudes e apenas 18% acreditam numa redução. “A maioria das empresas, ao longo das suas vidas corporativa, enfrentará a ato fraudulento, de uma forma ou de outra. Se sobreviverão às experiências ou emergirão mais fortes dependerá, em última análise, das atitudes e dos processos internos em vigor, para responder, controlar e prevenir a fraude”, finaliza Werner Scharrer.