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Sai mapa da mortalidade empresarial

Guarulhos, 12 de agosto de 2004

A escassez e o alto custo do crédito, as dificuldades gerenciais e o peso da carga tributária nas finanças estão entre os principais motivos que levam metade das micro e pequenas empresas a fechar suas portas antes de completarem dois anos de existência no País. A conclusão é da primeira pesquisa nacional sobre mortalidade de empresas no Brasil, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Com base em dados das Juntas Comerciais dos estados brasileiros, a pesquisa analisou cerca de 1,3 mil empreendimentos que começaram a funcionar em 2000, 2001 e 2002.

A sondagem, divulgada pelo Sebrae, identificou que 49,4% das empresas que começaram a funcionar em 2002 fecharam no início de 2004. O percentual de extinção sobe para 56,4% quando considerados os negócios abertos em 2001 e para 59,9% quando entram na estatística os iniciados em 2000. O presidente do Sebrae, Silvano Gianni, disse que essa taxa de mortalidade brasileira é muito alta, superando até as piores realidades de países desenvolvidos.

“Morte de microempresas jovens acontece em todo o mundo, mas nos países desenvolvidos essa taxa varia entre 20% a no máximo 40%”, disse Gianni. Para o Sebrae, há espaço para reduzir essa mortalidade precoce adotando-se um sistema tributário diferenciado para as micro e pequenas empresas, menos burocracia e maior divulgação do apoio gerencial e de capacitação dos novos empresários. Um projeto de lei criando o chamado Super Simples, que trará um sistema tributário mais simples e menos burocrático, deve ser encaminhado ao Congresso até outubro desde ano, segundo afirmou Gianni.

Problemas – O dono da loja de confecções Moda Jovem, localizada em um shopping de Brasília, Diógenes Taroni, conhece bem esses problemas. Essa é a quarta tentativa do empreendedor em tocar um negócio. Ele já teve três experiências negativas com outros estabelecimentos abertos por meio de franquias de marcas de roupas. Depois de problemas iniciais com os franqueadores, se viu envolvido em dívidas para ter capital de giro, se desfazer das lojas anteriores e recomeçar os empreendimentos.

Taroni destacou como fundamentais à estabilidade de um empreendimento ter um bom local de venda e o treinamento adequado para tocar um negócio. “Comecei aprendendo na marra porque não conhecia o comércio de confecções”, relatou o empresário, funcionário aposentado do Banco do Brasil. A pouca oferta de crédito barato é um dos grandes obstáculos, diz ele. Por isso, o ex-bancário está usando sua experiência para buscar alternativas de crédito ao mesmo tempo em que ajuda outros empreendedores: está organizando um grupo de pequenos empresários numa cooperativa de crédito. “Temos de criar opções de crédito mais barato no País”, defendeu.

Não à toa, devido ao custo dos empréstimos, a maior parte dos pequenos empresários que fecharam disseram ter aplicado recursos próprios no negócio e cerca de 82% perderam mais da metade do investimento com a falência. Por isso, a maioria volta a ter um trabalho com carteira assinada e apenas 14% tentam abrir uma nova empresa.

A pesquisa do Sebrae, que também ouviu 5.727 empreendedores, revela que 96% das firmas fechadas prematuramente são microempresas, pois possuíam de um a nove empregados e faturamento anual menor que R$ 120 mil ao ano. Quando analisados os ramos de atividade, 51% das empresas extintas estavam no comércio, 46% nos serviços e outros 3% na indústria. “Quanto menor o porte das empresas, maior é a mortalidade”, disse o gerente da Unidade de Estratégias do Sebrae, Gustavo Morelli.

Segundo o levantamento, as Juntas Comerciais registram, em média, o surgimento de 470 mil novas pequenas firmas no Brasil por ano. O Sebrae estima que apenas no início deste ano houve o fechamento de aproximadamente 772,6 mil empresas, com até quatro anos de vida, de um total de 1,3 milhão de negócios iniciados nos três anos analisados. A conseqüência direta desse movimento teria levado à redução média de 2,4 milhões de postos de trabalho no período.