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Governo quer CPMF para fiscalizar

Guarulhos, 17 de julho de 2003

ArteA Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, CPMF, que causa polêmica desde que foi criada, continua como um dos pontos mais controversos da reforma tributária que tramita no Congresso. Mesmo combatida por boa parte da iniciativa privada, meio jurídico e até mesmo pela classe política, a contribuição, no que depender do governo federal, permanecerá sob a alíquota máxima de 0,38% e, ainda, deixará de ser provisória para se tornar permanente.

A idéia de se criar um tributo nos moldes da CPMF partiu do ex-ministro da Saúde Adib Jatene em 1995. Oito anos depois, a contribuição não rendeu muitos frutos para a saúde pública no País, mas gerou um caixa significativo para as finanças públicas, do qual o governo não quer abrir mão. Em 2002, o governo recolheu R$ 20,36 bilhões em CPMF e deverá obter, segundo expectativas, mais R$ 22 bilhões este ano. O número representa 8,75% do total de receitas tributárias administradas pela Receita Federal. O volume é quase idêntico ao que o governo arrecadou no ano passado com o Imposto sobre Produtos Industrializados, IPI.

Arrecadação gratuita – Um dos setores mais sensíveis à CPMF tem sido o financeiro, que desde a instituição do tributo, sem consulta prévia e direito a reclamar, passou a ser arrecadador gratuito do governo. Os bancos tiveram o ônus de desenvolver softwares sofisticados para a função e de prestar contas ao governo a cada trimestre sobre os valores descontados e o CPF ou CNPJ de quem pagou. O dinheiro é transferido diretamente para o Tesouro Nacional.

Gabriel Jorge Ferreira, presidente da Federação Brasileira dos Bancos, Febraban, critica duramente a transformação da contribuição provisória em permanente. “É uma injustiça. A CPMF é perversa sob todos os aspectos pois tributa o uso da moeda e os recursos provenientes de capital ou renda já tributada”, afirma, lembrando que o Brasil é um dos poucos países onde o crédito sofre tributação. Gabriel Ferreira pondera que, caso a reforma venha realmente a perenizar a contribuição que, pelo menos a tornem passível de ser compensada com outros tributos federais.

Cascata – O efeito cascata aliás, tem sido o principal mote de tributaristas ao empreender ações na justiça contra a cobrança da CPMF – sem, contudo, obterem decisões favoráveis quanto à suspensão da cobrança por meio de liminares. Alguns ministros de tribunais superiores têm se manifestado publicamente, desde o surgimento da contribuição, sobre os problemas na formulação do tributo. É o caso da ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça, STJ. Para ela, a cumulatividade é uma dos principais injustiças trazidas pela contribuição.

Outro argumento apontado pelos advogados em suas ações, a inconstitucionalidade na prorrogação da cobrança – que não respeitou os 90 dias para entrar em vigor -, foi derrubado em outubro do ano passado, por unanimidade, pelos ministros do Supremo Tribunal Federal, STF, que analisaram um processo movido pelos partidos políticos PSL e PSB.

“Não há como fugir” – A quebra do sigilo bancário, outro aspecto questionado na Justiça, tem merecido ponderações. Os contabilistas defendem a continuidade da CPMF da forma como vem sendo aplicada. O setor defende a CMF (Contribuição sobre Movimentação Financeira), no entanto, muito mais para efeito fiscalizador do que arrecadador. “Temos de deixar a hipocrisia de lado. Sob a bandeira do sigilo bancário existe muita malversação do dinheiro. O sigilo tem sido um escudo para o dinheiro sem origem. O cidadão que cumpre seus compromissos não teme os efeitos da CPMF”, afirma o contador e empresário contábil Pedro Ernesto Fabri, presidente do Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo, CRC-SP.

Fabri considera a CPMF um tributo de boa condição de arrecadação. “Não existe fuga tributária e sob o ponto de vista de arrecadação é bastante positiva. Evita a sonegação porque não há como fugir dela”, diz.

Diva Borges