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Lojas já pensam em reduzir seus juros

Guarulhos, 23 de junho de 2003

arteMesmo registrando vendas fracas, parte do comércio saiu na frente e fala em deixar suas operações de crédito mais baratas para os consumidores

Se a redução de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros feita na última quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária, (Copom), desagradou a muitos setores da economia que esperavam por uma redução mais ousada, algumas lojas de peso do comércio irão aproveitar o corte, ainda que tímido feito pelo Banco Central, para reduzir os juros cobrados nas suas vendas feitas no crediário.

“O objetivo é não perder a oportunidade de reverter os resultados ruins obtidos até agora por todo o varejo”, disse Celso Amâncio, diretor da Casas Bahia, uma das maiores fornecedoras de crédito no comércio paulista.

Segundo Amâncio, o comércio tem de aproveitar este momento de pequena redução para aderir às promoções mostrando “que aqui os juros também caíram”, diz ele.

A decisão de aumentar as vendas via uma redução do custo do crédito também foi anunciada por outras lojas. “A boa notícia é que a baixa na taxa Selic mostra que a tendência dos juros é de queda daqui para a frente, o que abre espaço para que todos os setores também pensem em baixar seus juros”, diz Amâncio.

Mais confiança – A queda simbólica da taxa Selic tende a repercurtir positivamente no volume de vendas. “Os trabalhadores poderão ver na decisão um sinal de que o seu emprego não está mais tão ameaçado, uma vez que os juros eram usados como justificativa pelas empresas na hora de demitir”, diz Valdemir Colleone, superintendente-geral da Lojas Cem.

O executivo diz que a rede de lojas já teve de demitir funcionários neste ano por causa das vendas fracas. “A maior parte dos nossos produtos é de alto custo, portanto a principal forma de pagamento usada ainda é o crediário”, diz ele. “Com os juros em 26,5% ao ano, o consumidor vinha adiando as compras”, diz.

Adriana Gavaça

Queda da Selic traz um sinal positivo, diz Guilherme Afif

Ainda é cedo para dizer se a redução da taxa Selic em meio ponto porcentual poderá melhorar as vendas no comércio e reativar a atividade industrial. “Como sinalização, a queda na taxa básica é positiva”, disse Guilherme Afif Domingos, presidente da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). “Esperamos alguma melhora pelo menos no Natal”, acrescentou.

Em outras palavras, o impacto final dessa redução “é quase nulo” e não elimina o problema maior: “A grande distância entre a Selic e os juros cobrados na economia real de consumidores e empresas.” Para Afif, o governo ajudaria mais a micro, pequena e média empresa se ampliasse os prazos de recolhimento de impostos sobre a folha, hoje no início do mês, para o dia 15 ou 25 do mês seguinte. “Porque hoje o empresário precisa emprestar dinheiro a juros escorchantes para poder pagar os impostos em dia”, enfatizou Afif.

Ele lembrou que esses prazos foram encurtados antes do Plano Real, quando a inflação era superior a 50% ao mês, e não voltaram quando a inflação caiu. “O governo poderia agora retornar aos antigos prazos sem mexer na política econômica e dar uma grande ajuda às empresas”, disse.

Sergio Leopoldo Rodrigues

Feliz Natal! São os votos de Mailson, com a queda da Selic

A redução de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros na última quarta-feira foi vista pelo ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega como sinal de amadurecimento do governo. Para ele, resultados positivos poderão ser vistos até o final deste ano.

A queda de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juro, a Selic, teve um significado muito importante porque sinalizou a restauração da confiança. A afirmação é do ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega. Para ele, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa de 26,5% para 26% ao ano foi um reflexo do amadurecimento do governo.

“A política econômica vem sendo conduzida de forma muito responsável pelo presidente Lula e pelo Partido dos Trabalhadores. Essa trajetória é irreversível e vai começar a produzir frutos já nos próximos dois ou três meses”, afirmou Nóbrega. O ex-ministro acredita que no final deste ano já haverá sinais claros de melhora no cenário econômico. “Com certeza teremos um Natal muito melhor que o do ano passado.”

A redução dos juros ocorrida na última quarta-feira deve ser, na opinião de Nóbrega, a primeira etapa de um processo contínuo. “A diminuição da Selic abriu espaço para uma queda sucessiva que pode culminar com um patamar de 21% no final deste ano”, disse.

O ex-ministro lembrou, porém, que a queda dos juros começou a acontecer no mercado futuro bem antes da redução oficial da Selic. Segundo ele, os contratos de juros para vencimentos em um ano já apontam para uma taxa de 21%. Em abril, esse percentual estava em 27%.

Contra-senso – Mailson da Nóbrega também criticou a forte pressão que tem sido feita sobre o governo para que tome medidas de aceleração do crescimento econômico.

“Estou perplexo com o manifesto dos economistas. Ele é patético e completamente sem sentido”, afirmou o ex-ministro, referindo-se aos dois documentos lançados no começo desta semana por economistas dos Conselhos Regionais de Economia do Brasil e integrantes do próprio PT, sugerindo medidas emergenciais para a condução da economia. “Essas pessoas estão atrasadas 30 anos. Suas idéias nos levariam a um desastre inflacionário.”

Para Nóbrega, a manutenção de juros altos foi uma medida necessária e sua reversão foi feita na hora certa. “A variação cambial levou à queda dos preços no atacado e permitiu a redução da Selic. São sinais de que a inércia inflacionária começa a ser quebrada”, explicou. Ele lembrou ainda que a elevação da taxa de juros foi a medida mais eficaz para combater a inflação recente.

Remédio amargo – De acordo com Denise de Pasqual, economista responsável pela análise setorial da Tendências Consultoria, o surto inflacionário do final do ano passado obrigou o governo a manter a Selic alta. Os indicadores macroeconômicos ruins, que permaneceram até abril, acabaram influenciando negativamente o consumidor e prejudicando em muito o varejo.

“Acreditamos que um provável crescimento de 1,5% do PIB estará totalmente ligado aos setores exportadores, que terão um crescimento médio de 3%”, disse Denise.

Em contrapartida, o varejo poderá fechar o ano com retração de 3% nos setores de bens duráveis e não duráveis. “Teremos mais um período amargo pela frente, mas ele é necessário para uma melhora a médio prazo. Serão mais seis meses ruins para depois podermos ter dois ou três anos positivos. Se o Banco Central não tivesse mantido os juros altos até agora, seriam três anos ruins”, afirmou a economista.

Para o setor de crédito, Denise de Pasqual acredita que a saída seja apostar em consumidores de classe baixa que não têm acesso ao mercado. “Quase 60% da população economicamente ativa não consegue crédito porque atua como autônomos ou não tem carteira assinada”, lembrou.

Estela Cangerana