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Estréia: Senhor dos Anéis – As Duas Torres

Guarulhos, 27 de dezembro de 2002

arteO primeiro filme da série baseada na obra de J.R.R. Tolkien não agradou a quem não leu o romance. Sem ter um verdadeiro final, ou pelo menos, uma conclusão dos fatos narrados nele, as pessoas saíram do cinema julgando o filme sem graça e até uma farsa, visto que o investimento em mídia e a fama do escritor não se mostraram na tela.

O que pouca gente – entre os que não leram o livro – viu foi o poder de concisão de roteiro. Peter Jackson conseguiu mostrar de maneira clara perto de 500 páginas do metódico estilo descritivo e narrativo de Tolkien.

Como que para conter a insatisfação do público e tornar a história inteligível para todos, Jackson usou um recurso simples para começar O Senhor dos Anéis 2. A primeira cena mostra Gandalf, o mago, caindo no abismo e lutando contras as forças malignas – uma das cenas do primeiro filme. Uma voz resume o que aconteceu até então na história e dá uma prévia do que são as duas torres: a materialização do poder de Sauron, o rei das trevas de Mordor, e de Saruman, o feiticeiro de Isengard que se aliou a Sauron por sua ganância exagerada.

A Sociedade do Anel, em seu esforço para resumir de maneira compreensível uma história repleta de personagens de nomes estranhos e genealogias complexas, acabou por ter um roteiro linear, em que um perigo sucedia ao outro, como se fosse um videogame. O mesmo não acontece em As Duas Torres. Como os personagens principais se separaram, o roteiro conta três seqüências de fatos paralelos que contribuem para a compreensão de toda a história. Assim, a narrativa passa de um grupo de personagens ao outro, tornando bem mais agradável a tarefa de enfrentar as quase três horas de projeção.

As boas risadas ficam por conta do anão Gimli, interpretado por John Rhys-Davies. No quesito romantismo Liv Tyler, que faz o papel de Arwen, mais uma vez ganha espaço no filme por sua beleza – apesar da personagem ter apenas uma pequena participação no livro. As cenas em que mostra seu amor e até desiste da imortalidade para ficar com o guerreiro Aragorn foram incluídas pelo roteirista. Se estivesse vivo, Tolkien talvez não aprovasse essa superexposição.

E se o papel fosse de outra atriz as cenas teriam provavelmente sido muito mais curtas, já que os longos flashbacks com Tyler nada mais são do que veículos para seu estrelato, não contribuindo para a compreensão da história ou para o ritmo da narrativa – isso, num filme bem mais longo do que a média.

Um capítulo à parte são as árvores que também entram na briga para conseguir resistir à destruição da Terra. Apesar dos efeitos especiais terem colocado até narizes em árvores que falam e andam, o recado é extremamente pertinente e continua válido, mesmo vindo de um livro escrito há tantos anos.

Outros valores também ganharam destaque. A Sociedade para destruir o anel colocou lado a lado um anão e um elfo, povos que não se entendiam – a convivência e a necessidade provaram que isso é possível: Guinli, o anão, e Legolas, o elfo, tornam-se grandes amigos. A lealdade de Sam para com Frodo, que carrega o pesado fardo de salvar o mundo ou render-se ao poder devastador de Sauron, é invejável. O jardineiro tem a chance de roubar o anel e ao invés disso luta para que também o amigo não se deixe sucumbir.

A fotografia do filme e os efeitos visuais continuam impecáveis. Tomadas belíssimas mostram as montanhas em que Frodo caminha junto com seu fiel escudeiro Sam e a grande batalha entre os orcs de Saruman e Sauron e os elfos e homens de Gandalf, Gondor e Aragorn.

Por fim, o grande mérito é contar uma história tão cheia de detalhes, nome ininteligíveis e impossíveis de se repetir sem que o espectador perca o interesse. O medo que espreita a todo momento mantém a atenção presa e, o melhor, o filme desta vez tem um fim, mesmo que para conhecer o verdadeiro e derradeiro final ainda tenhamos de esperar mais um ano.