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Juro maior pode levar lojas a reduzir prazo do crediário

Guarulhos, 21 de novembro de 2002

arteO aumento da taxa Selic não enterra as possibilidades de um Natal melhor que o do ano passado mas, com certeza, os comerciantes terão de ser mais ousados e criativos. A avaliação é do presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alencar Burti. “Se a medida conseguir aliviar a pressão no câmbio e fizer com que ele recue até o começo de dezembro, poderemos ter efeitos positivos que compensem o balde de água fria da alta dos juros. Neste caso, ainda podemos ter um Natal até 1,5% melhor que o de 2001. Se isso não acontecer e o dólar continuar em alta, no máximo empataremos com o ano anterior. De qualquer forma, quem não for criativo e agressivo em sua política de preços e formas de pagamento, terá resultado pior nas vendas”, diz.

O problema é que a medida, adotada às vésperas do Natal, mexe justamente com os planos dos varejistas, que eram de ampliar prazos de pagamentos, fazer descontos e, se o ambiente fosse mais favorável, até reduzir os juros. “Num momento em que os lojistas preparavam suas estratégias mais agressivas de venda, o aumento da Selic acaba aumentando a percepção de risco, de mais inadimplência. Mesmo que as lojas e financeiras não repassem todo o aumento dos juros, é provável que o medida iniba a ampliação de prazos no crediário, e pode até ocorrer alguma redução”, diz Miguel de Oliveira.

Prazo menor

Oliveira explica que prazo menor é mais grave para as vendas do que aumento de juros. Basta ver que no crediário de uma geladeira de R$ 800, financiada em 12 vezes, o aumento de um ponto na Selic significaria ajuste no juro médio de 6,63% para 6,70% ao mês, resultando num aumento de apenas R$ 0,38 em cada prestação, ou R$ 4,56 sobre o valor final. “Já uma redução de prazos pode fazer com que a prestação não caiba mais no bolso do consumidor, que pode desistir da compra planejada”.

O vice-presidente da Fenacrefi, que representa as financeiras, Artur Assunção, não acredita que o aumento do juro básico será repassado aos empréstimos antes do Natal. “Isso talvez ocorra em financiamento de veículos. Mas, no geral, não acredito que haverá aumento de taxas, nem encurtamento de prazos nos financiamentos”, afirma.

O economista da Federação do Comércio Antônio Carlos Borges acha que a medida do BC acaba sendo inócua, sem maiores efeitos imediatos na economia, a não ser gerar mais expectativas negativas. ” Tenho dúvidas sobre a eficiência da medida. O consumo que não depende de crédito, dos chamados bens não duráveis, como alimentação, não será refreado. E o de bens mais caros, que já estava em queda, terá pouca chance de se recuperar”, conclui o economista.

Sandra Motta