Notícias

Impostos chegam a comprometer até 40% da margem de lucro

Guarulhos, 14 de junho de 2002

A carga de custos sobre o comércio é pesada. Impostos, tarifas, gastos com folha de pagamento, entre outros encargos, afetam principalmente o pequeno varejo, que é quem mais sofre com os custos fixos – que não dependem do lucro da empresa. “Já vi exemplos em que só os impostos chegam a comprometer 40% da margem de lucro do lojista”, afirma o economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo.

Alguns setores, segundo ele, trabalham com margens de lucro muito baixas, e dependem do volume de vendas para sobreviver. É o caso, por exemplo, dos postos de gasolina, cuja margem é controlada pelas revendedoras, e dos supermercados, que, em função da grande concorrência, não podem repassar os custos para os preços dos produtos.

Desde a estabilização da economia brasileira, a forma como o varejo administra os custos mudou. “Na época da inflação alta, quando se fazia a formação do preço, normalmente se tomava o preço de custo do produto, jogavam-se em cima todos os encargos e mais uma margem de lucro”, conta Solimeo. Hoje, de acordo com ele, o mercado é que faz o preço de venda. “Quando os custos são altos, os comerciantes acabam reduzindo a margem de lucro”, destaca. Isso quer dizer que se há aumento na conta de luz, por exemplo, o lojista só pode repassar para o preço final ao consumidor se o concorrente também repassar. Caso contrário, a opção é reduzir lucros, para não sair do mercado.

“Em tempos de inflação alta, todo mundo repassava tudo. Atualmente, as tarifas e impostos pesam mais sobre o varejo, porque é mais difícil repassá-las”, comenta Solimeo.

O consultor de varejo, Eugênio Foganholo, da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, explica que a carga de custos das lojas é dividida em três grupos. “O primeiro e mais alto é o próprio custo da mercadoria; o segundo, os impostos, taxas e emolumentos ; e o terceiro são as despesas operacionais da loja”, afirma. A soma dos impostos, taxas e emolumentos, segundo Foganholo, chega a ser maior que as despesas operacionais do estabelecimento, que incluem gastos com funcionários, despesas administrativas, comerciais (propaganda, publicidade, promoções) e financeiras (custos bancários, taxas de cheque devolvido). Ele ressalta que as empresas que não têm capital próprio – principalmente as de pequeno porte – têm o custo adicional das taxas de juros do crédito, “fornecido principalmente pelos fornecedores”, para a compra de estoque.

O imposto mais pesado para o varejo, segundo especialistas, é o ICMS, de 18%.

Depois dele vêm o PIS e o Cofins, que representam 3% do faturamento das empresas, segundo o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira. “Dependendo da cidade e do estado, são cobradas mais de 50 taxas ao todo”, informa o consultor.

Na Casa Eurico, por rexemplo, loja especializada em sapatos de tamanho grande, fundada em 1938, em São Paulo, os impostos comprometem hoje cerca de 20% do faturamento total, já os salários dos funcionários, 18%. “Nossos gastos com mercadoria representam 50% do faturamento”, afirma a proprietária, Nídia Rosenthal Szylit.

“Para conseguir reduzir custos, o varejista precisa atuar sobre as despesas operacionais – ter estoque mínimo e funcionários com tarefas múltiplas, por exemplo”, orienta Foganholo.

Mila Marques