Tom Cruise está de volta em um policial futurista
Se 2001, Uma Odisséia no Espaço e Blade Runner, o Caçador de Andróides, apresentaram as visões mais provocantes do futuro vistas por suas respectivas gerações, Minority Report – A Nova Lei oferece o retrato mais detalhado já criado pela Hollywood moderna da aparência que os Estados Unidos podem ter daqui a 50 anos.
A mais recente investida de Steven Spielberg no território da ficção científica é também sua obra mais sombria e socialmente relevante. Tanto Blade Runner que, em 1982, visualizava uma Los Angeles densamente urbanizada em 2019, quando Minority Report, que retrata Washington em 2054, repleta de novidades tecnológicas mas ainda muito reconhecível, se baseiam em obras de ficção do falecido escritor Philip K. Dick.
Ambos retratam mundos dominados por tecnologia extremamente sofisticada, mas repletos de criminalidade em todo o espectro social.
A magnífica sequência de abertura, de 15 minutos, agarra a atenção do espectador e ilustra com perícia a idéia central do filme: a prevenção de crimes antes mesmo de serem cometidos, já que eles são previstos por sensitivos.
Ao analisar imagens obtidas de três “pre-cogs” (pré-cognitivos) sensitivos, o chefe da unidade de Pré-Crimes da polícia, John Anderton (Tom Cruise), consegue reunir evidências suficientes sobre um crime de paixão que está prestes a acontecer para que ele e sua equipe consigam chegar ao local a tempo de impedir um marido ciumento de apunhalar sua mulher e a amante dela.
Diante de painéis dispostos em sua envidraçada sala de controle, Anderton lembra um regente de orquestra, enquanto convoca imagens de seus pre-cogs, as limpa, reenquadra, faz avançar ou retroceder, solicita a visão desde ângulos novos — tudo que possa ajudá-lo a encontrar pistas quanto ao local, à identidade dos envolvidos e à sequência dos acontecimentos (que ainda não aconteceram).
Uma visita a seu apartamento revela algumas das propostas tecnológicas para o futuro imaginadas pelo filme: carros magnéticos capazes de realizar manobras horizontais e verticais, eletrodomésticos comandados pela voz do dono, práticos inaladores de drogas e um centro de entretenimento doméstico em 3-D através do qual tomamos conhecimento do trauma principal da vida do policial: a morte de seu filho pequeno, seis anos antes.
Na condição de policial que não vive mais com sua mulher e perdeu seu filho, Anderton é profundamente motivado para salvar outras pessoas do mesmo tipo de tragédia que ele próprio viveu.
Um observador do Departamento de Justiça, Danny Witwer (Colin Farrell), é enviado para estudar o trabalho da unidade de pré-crime e em pouquíssimo tempo avisa a todos que pretende encontrar falhas em seu funcionamento.
O protagonista e o próprio filme mudam radicalmente após 40 minutos de exibição, quando Anderton, enquanto observa visões de pre-cogs, fica chocado ao ver projeções dele mesmo cometendo um assassinato.
A idéia lhe parece inconcebível e, imediatamente, o leva a imaginar que Witwer preparou uma cilada para ele. E Anderton terá apenas 36 horas, o tempo que falta para o homicídio previsto, para descobrir o que deu errado.
O mundo visto no filme é inteiramente verossímil, na medida em que a vida das pessoas ainda é dominada pelo trabalho e as emoções pessoais. Vale notar que, antes de fazer o filme, Steven Spielberg promoveu uma conferência de três dias na qual pensadores importantes em muitos campos — ciência, combate ao crime, transportes, arquitetura, saúde, etc. – expuseram suas visões do futuro.
Apesar de todas suas qualidades, porém, Minority Report dificilmente terá uma ressonância tão grande quanto Blade Runner ou 2001, porque se preocupa mais com o prosaico do que com o poético, mais com o progresso da narrativa, a precisão das previsões e questões legalistas do que com as noções mais amplas de bem e mal, destino e o questões maiores da vida.