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Recorde nas transações correntes

Guarulhos, 24 de outubro de 2003

O Brasil obteve, no mês passado, o maior saldo positivo da conta de transações correntes – que inclui todas as transações de bens e serviços com o exterior – desde que o Banco Central passou a medir essa estatística mês a mês, em 1980. Em setembro, o superávit chegou a US$ 1,338 bilhão.

A partir deste resultado e um mês depois de prever que o País encerraria 2003 com o menor déficit em conta corrente desde 1994, o Banco Central refez os cálculos e já trabalha com um resultado positivo para as contas externas este ano. O superávit, segundo dados preliminares dos técnicos do BC, ultrapassará US$ 1 bilhão. Na verdade, apesar de o novo número oficial ainda não ter sido divulgado, o valor deverá ser mais do que o dobro disso. O que puxou o superávit de setembro foi o saldo comercial positivo de US$ 2,7 bilhões.

O ano do último superávit em transações correntes do Brasil (US$ 6,1 bilhões), 1992, foi também o último ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) do País encolheu: a retração foi de 0,54%. Neste ano, a economia deve crescer 0,6%, segundo a última projeção do BC.

Para outubro, a projeção do BC é de um resultado novamente positivo em US$ 500 milhões, o que elevará o saldo acumulado no ano para US$ 4,356 bilhões. Se, no último bimestre de 2003, o País apresentar um déficit de US$ 1,7 bilhão, como projetam os analistas de mercado, ainda assim, o saldo final seria um superávit de US$ 2,6 bilhões.

“Com retomada do nível de atividade não deveremos ter saldos comerciais tão expressivos em novembro e dezembro mas, mesmo assim, o desempenho do comércio não será ruim para reverter todo ganho verificado até agora”, afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

A expectativa é que o maior crescimento da economia neste final de ano gere um aumento nas importações. Isso porque como as indústrias estarão produzindo mais, elas deverão demandar mais insumos importados. O aumento nas compras de produtos estrangeiros, por sua vez, diminuirá os saldos comerciais expressivos registrados até agora.

Além disso, as projeções do mercado levam em conta remessas de lucros e dividendos mais fortes e aumento dos gastos de turistas brasileiros em viagem ao exterior. “Com a volatilidade do dólar no final do ano passado, essas despesas foram reprimidas. Este ano, o ambiente de retomada do nível de atividade combinado com taxa de câmbio mais estável irá elevar esses gastos”, avalia o economista Roberto Padovani.

Em setembro especificamente, os dados do BC já mostram discreto aumento nos gastos com turismo. Essas despesas passaram de US$ 142 milhões, em setembro de 2002, para US$ 191 milhões este ano. Com isso, após contabilizar também as receitas obtidas pelo País, o superávit registrado em viagens internacionais caiu de US$ 37 milhões para US$ 13 milhões, no mesmo período. Em outubro, os dados preliminares do BC apontam um déficit de US$ 11 milhões. Já as remessas de lucros e dividendo se mantiveram no patamar de US$ 300 milhões.

“Estruturalmente, a conta de serviços e rendas (onde estão registrados os gastos com turismo, fretes, seguros, juros e remessas de lucros e dividendos) é deficitária. Essa conta se desacelerou por força da desvalorização do câmbio em 2002 mas tende a crescer”, explicou Lopes.