Peças que tiveram o valor reduzido não devem voltar ao preço original
Todo cuidado é pouco quando se trata de planejar liquidações no varejo. Um descuido pode colocar em cheque a credibilidade da loja. Aos olhos do consumidor, mercadoria com preço reduzido que volta ao valor original costuma soar como lucro excessivo. Para evitar o mal-estar, as liquidações da estação devem ser acompanhadas de muito efeito visual nas vitrines e coerência nos preços.
A consultora Eliane Sforza adverte que o ideal é deixar fora das liquidações os produtos básicos, que compõem tradicionalmente o mix da loja. “A queima de produtos que são o carro-chefe de um comércio só é indicada se os modelos seguirem uma tendência da moda. Para evitar o sobe-e-desce de preços, atitude que não faz nada bem à imagem da loja, o certo é planejar bem o estoque e liquidar apenas os modelos que seguem uma tendência e, portanto, estão prestes a sair de moda”, diz.
Analisar o potencial de venda para evitar acúmulo de peças no estoque é um cuidado que permitirá definir melhor o que será liquidado. Se as peças básicas que não saem de moda sobraram na virada da estação, o melhor é guardar para vendê-las depois porque, segundo Eliane, o artifício de baixar e subir preços de uma mesma mercadoria frustra o consumidor, que passa a não confiar nos preços da loja.
Roupa fica ultrapassada muito rapidamente
A estilista Luciana Peres é contra a prática que reduz para, em seguida, elevar preços. Segundo ela, uma vez remarcada, a peça não retorna ao valor original.
– O consumidor tende a achar que o preço original é caro e que a diferença em relação ao valor exposto na liquidação é lucro excessivo. Isso não é a realidade porque a indústria de roupa gera sobra. Roupa é pior que carne fora da geladeira, fica ultrapassada rapidamente.
Estratégia que dura apenas sete dias
Consultora de varejo Maria Garcia orienta o lojista a eleger um produto a cada semana para liquidação. A estratégia deixa claro ao consumidor que aqueles preços vão durar apenas sete dias e depois as peças voltam ao valor original.
– Isso acontece com qualquer produto, seja roupa ou carro. O consumidor atento conhece os preços do mercado e saberão, por exemplo, que uma calça jeans que está por R$ 40 faz parte da promoção, já que o valor médio é de R$ 70. No Verão ocorrem várias queimas, a começar pelos modelos do Ano Novo, depois do Alto Verão, em janeiro, que continua expondo as pontas de estoque de outubro, novembro e dezembro. Em fevereiro, no Alto Verão, a mercadoria fica em liquidação até chegar a liquidação de Carnaval – diz.
De acordo com Maria Garcia, peças isoladas merecem o desconto, mas uma grade completa com preços de liquidação é atitude que, aos olhos do consumidor, parecerá desespero e falta de critério na compra. “Vitrines bem sinalizadas quanto aos produtos em liquidação é a maneira de dizer ao consumidor que os valores baixos são temporários”, ensina.
Gisela Alvares