Notícias

Nem liquidações salvam o varejo

Guarulhos, 04 de agosto de 2003

Liquidações, prazos um pouco mais esticados de pagamento no cheque, no cartão ou uma série de descontos. Essas têm sido as estratégias do varejo para reduzir o prejuízo da queda nas vendas causados pela estagnação da economia. Mesmo assim, os resultados foram incipientes e as ofertas deverão se estender até o Dia dos Pais. O objetivo é queimar os estoques de inverno.

Apesar dos esforços para vender, os indicadores da Associação Comercial de São Paulo apontam que as vendas continuam em trajetória de queda. De acordo com o balanço do mês de julho realizado pelo Instituto de Economia Gastão Vidigal, as vendas no crediário, sinalizadas pelo Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), caíram 7,5%, na comparação com igual período do ano passado. Já o UseCheque, que faz o acompanhamento do desempenho das vendas a vista, caiu 4,6%.

De acordo com o economista da Associação Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri, os efeitos das liquidações, que começaram em meados de julho, podem ser sentidos na comparação com o mês passado. No crediário, houve uma elevação de 11,7% nas vendas. As compras a vista aumentaram 7,3%. As explicações para esses aumentos são o número maior de dias úteis em julho e a fraca base de comparação. Na mesma época do ano passado os dados também foram negativos. “Mas os números não foram suficientes para reverter o quadro negativo. O varejo poderá começar a reagir após uma redução efetiva do depósito compulsório”, avalia.

No acumulado do ano, de janeiro a julho, as vendas registram uma redução de 4,4%. Até junho, a redução estava acumulada em 3,7% e havia esperança de retomada. Mas a ausência de frio, que se limitou a apenas uma semana do mês, ajudou pouco nas vendas de artigos tipicamente de inverno, como vestuário, calçados, cobertores e aquecedores.

A redução da taxa básica de juro, a Selic, de 1,5 ponto percentual ainda não surtiu efeitos no varejo. Para o economista da Associação Comercial, como a expectativa para a inflação dos próximos 12 meses caiu mais que o esperado, a queda nominal da taxa foi incipiente. Com o forte recuo da inflação, a taxa real acabou sendo a mesma ou até maior.

Inadimplência – Os números da Associação mostram que a inadimplência caiu 13,4% em comparação ao ano passado. Mas teve um repique de 16,1% em relação ao mês de junho. Os consumidores que quitaram as dívidas caiu 5,7% na comparação com 2002. Mesmo assim, os registros cancelados, ou seja, de pessoas que quitaram seus débitos foi 20,8% maior em julho, se comparado com o mês de junho. “Isso pode ser reflexo da cautela do consumidor com os gastos e das estratégias dos lojistas para evitar a inadimplência, que ofereceram mais facilidades para a quitação dos débitos”, opina Alfieri.

O presidente da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, reforça que “o medo está vencendo a esperança”, disse ele, referindo-se ao consumidor que está preferindo quitar seus débitos a fazer novas dívidas. “Não apenas pelas altas taxas de juros como também pela insegurança no tocante ao emprego”, enfatizou.

O presidente da Associação Comercial de São Paulo disse que espera mais ousadia do Banco Central para a redução da taxa Selic e que inicie rapidamente o processo de diminuição dos depósitos compulsórios. Isso ajudará na queda de juros e oferta de crédito permitindo que ainda neste ano o varejo possa ter uma reativação das vendas.

“Com o grande crescimento da renegociação dos débitos e o baixo nível de endividamento, os consumidores estão em condições de voltar às compras, desde que haja uma dilatação nos prazos do crediário e taxas de juros menores”, disse Afif. “Se o Banco Central olhar também para o lado real da economia, baixará mais rapidamente as taxas de juros”.

Dora Carvalho