Nem liquidações salvam o varejo
Liquidações, prazos um pouco mais esticados de pagamento no cheque, no cartão ou uma série de descontos. Essas têm sido as estratégias do varejo para reduzir o prejuízo da queda nas vendas causados pela estagnação da economia. Mesmo assim, os resultados foram incipientes e as ofertas deverão se estender até o Dia dos Pais. O objetivo é queimar os estoques de inverno.
Apesar dos esforços para vender, os indicadores da Associação Comercial de São Paulo apontam que as vendas continuam em trajetória de queda. De acordo com o balanço do mês de julho realizado pelo Instituto de Economia Gastão Vidigal, as vendas no crediário, sinalizadas pelo Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), caíram 7,5%, na comparação com igual período do ano passado. Já o UseCheque, que faz o acompanhamento do desempenho das vendas a vista, caiu 4,6%.
De acordo com o economista da Associação Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri, os efeitos das liquidações, que começaram em meados de julho, podem ser sentidos na comparação com o mês passado. No crediário, houve uma elevação de 11,7% nas vendas. As compras a vista aumentaram 7,3%. As explicações para esses aumentos são o número maior de dias úteis em julho e a fraca base de comparação. Na mesma época do ano passado os dados também foram negativos. “Mas os números não foram suficientes para reverter o quadro negativo. O varejo poderá começar a reagir após uma redução efetiva do depósito compulsório”, avalia.
No acumulado do ano, de janeiro a julho, as vendas registram uma redução de 4,4%. Até junho, a redução estava acumulada em 3,7% e havia esperança de retomada. Mas a ausência de frio, que se limitou a apenas uma semana do mês, ajudou pouco nas vendas de artigos tipicamente de inverno, como vestuário, calçados, cobertores e aquecedores.
A redução da taxa básica de juro, a Selic, de 1,5 ponto percentual ainda não surtiu efeitos no varejo. Para o economista da Associação Comercial, como a expectativa para a inflação dos próximos 12 meses caiu mais que o esperado, a queda nominal da taxa foi incipiente. Com o forte recuo da inflação, a taxa real acabou sendo a mesma ou até maior.
Inadimplência – Os números da Associação mostram que a inadimplência caiu 13,4% em comparação ao ano passado. Mas teve um repique de 16,1% em relação ao mês de junho. Os consumidores que quitaram as dívidas caiu 5,7% na comparação com 2002. Mesmo assim, os registros cancelados, ou seja, de pessoas que quitaram seus débitos foi 20,8% maior em julho, se comparado com o mês de junho. “Isso pode ser reflexo da cautela do consumidor com os gastos e das estratégias dos lojistas para evitar a inadimplência, que ofereceram mais facilidades para a quitação dos débitos”, opina Alfieri.
O presidente da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, reforça que “o medo está vencendo a esperança”, disse ele, referindo-se ao consumidor que está preferindo quitar seus débitos a fazer novas dívidas. “Não apenas pelas altas taxas de juros como também pela insegurança no tocante ao emprego”, enfatizou.
O presidente da Associação Comercial de São Paulo disse que espera mais ousadia do Banco Central para a redução da taxa Selic e que inicie rapidamente o processo de diminuição dos depósitos compulsórios. Isso ajudará na queda de juros e oferta de crédito permitindo que ainda neste ano o varejo possa ter uma reativação das vendas.
“Com o grande crescimento da renegociação dos débitos e o baixo nível de endividamento, os consumidores estão em condições de voltar às compras, desde que haja uma dilatação nos prazos do crediário e taxas de juros menores”, disse Afif. “Se o Banco Central olhar também para o lado real da economia, baixará mais rapidamente as taxas de juros”.
Dora Carvalho