Mercado já vê motivos técnicos para o BC baixar juros
O Banco Central tem espaço para, na próxima quarta-feira (18/06), anunciar uma redução na taxa básica da economia, a Selic, e dar início à tão esperada queda de juros prometida pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha eleitoral. Essa é a opinião de boa parte dos departamentos de economia dos bancos. Poucos acham que o fato de o núcleo da inflação resistir a uma redução mais acentuada ainda é empecilho para que BC promova a redução do juro.
Para os economistas do mercado financeiro, há espaço para que seja anunciada uma redução de até um ponto percentual na Selic, que cairia de 26,5% para 25,5% ao ano. Muitos, porém, acham que o BC manterá sua postura conservadora e promoverá uma queda menor, de 0,5 ponto. De qualquer forma, estaria dada a largada para a queda dos juros e não seria por qualquer pressão política.
O mercado financeiro acredita que há bons motivos técnicos para a queda e que o BC do governo Lula já deu mostras suficientes de credibilidade. Entre os motivos técnicos citados estão os sinais mais palpáveis de queda da inflação aliados à redução acentuada da atividade econômica; a redução de juros promovida pelo mercado europeu; a estabilidade na taxa de câmbio (que estava em R$ 3,03 na última reunião do Copom e já caiu para menos de R$ 2,90).
O economista-chefe do Citibank, Carlos Kawall, diz que o comportamento da inflação está mais favorável e prevê que o BC reduza o juro em 0,5 ponto percentual. Para ele, o Banco Central não estará cedendo a nenhuma pressão política caso decida pela redução.
– Pressão política e ansiedade sempre existem, mas o Banco Central já deu mostras de que não está disposto a ceder. Além disso, tem muita gente querendo pegar carona na queda do juro. Ou seja, se o Banco Central reduzir a taxa, dizer que a decisão foi tomada por causa desta ou daquela pressão – disse o economista.
Na avaliação do economista-chefe do Lloyds, Odair Abate, há motivos técnicos para que seja iniciada a trajetória de queda do juro: o nível de atividade econômica caiu ainda mais nos últimos 30 dias e alguns setores, como o de embalagens, apresentaram declínio acima da média do setor. Além disso, houve redução dos juros na Europa e a tendência é que a taxa caia também nos Estados Unidos, alargando ainda mais a diferença entre a a taxa oferecida pelo Brasil em relação à de outros países. Também o IPCA, pela primeira vez, ficou abaixo do ideal para que a meta de inflação do ano, de 8,5%, seja cumprida. Abate acredita que a Selic será reduzida em0,5 ponto percentual, embora ele veja espaço para que o Banco Central promova uma queda até um ponto percentual.
– Estou convencido que o Banco Central tem bons motivos para reduzir o juro sem colocar em risco a tendência de queda da inflação. Os indicadores de queda da inflação são hoje muito mais claros do que eram no mês passado, quando o BC optou por manter a taxa Selic em 26,5% ao ano – afirma.
Mauro Schneider, estrategista para a América Latina do ING,diz que o risco de inércia inflacionária deixou de ser um grande problema e que todos os sinais são de que os preços estão se acomodando, pois a demanda está em queda e o câmbio está estável.
– As expectativas em relação à inflação estão convergindo para a meta. Mesmo uma redução de um ponto percentual é modesta – diz ele.
O diretor de tesouraria do Banco Fator, Sérgio Machado, também acredita que a Selic possa ser reduzida em até um ponto percentual, mas lembra que há rumores de que os juros podem ser mantidos e a medida possa ser compensada pela redução do compulsório cobrado sobre os depósitos bancários, que foi elevado em fevereiro passado para reduzir a oferta de crédito no mercado.
– O Banco Central tem espaço para reduzir a Selic em até um ponto percentual. Mas há boatos sobre a redução do compulsório no lugar dos juros. Se isso acontecer também será positivo, principalmente para as pequenas e médias empresas que pagam juros altos no mercado e não se beneficiam com a redução simbólica da Selic – afirmou.
Hélio Osaki, analista da Corretora Finambras, disse que está dividido entre a manutenção da Selic e um corte modesto. O motivo, explica, é que o núcleo da inflação resiste a quedas mais acentuadas. É uma opinião semelhante ao do BBV banco. Apesar de achar que existe espaço para a queda dos juros, a instituição aposta que o Banco Central será conservador e manterá a taxa.
O economista Fernando Honorato Barbosa, do BBV, diz que acredita na manutenção do juro porque o patamar dos preços mínimos ainda não é confortável para o cumprimento da meta de inflação de 2004, de 5,5% ao ano. Além disso, acrescenta, o Banco Central ainda continua em fase de construção de sua reputação na condução da política monetária, principalmente com a mudança de alguns diretores.
– O Banco Central do governo Lula já deu mostras de que é independente. Mas quanto maior for sua reputação, maior o efeito futuro da política monetária – diz o economista.
Para Barbosa, o juro poderia ser cortado em meio ponto percentual sem que houvesse qualquer prejuízo, nem mesmo à reputação do Banco Central. Isso porque o juro real aumentou entre um e 1,5 ponto percentual desde a última reunião do Copom, atingindo entre 17,4% e 17,5% ao ano.
– Mesmo com corte de meio ponto percentual, o Banco Central ainda não retomaria o juro real de maio, que estava na casa de 16% ao ano. Por isso, defendemos que há espaço para uma “ousadia responsável” de reduzir o juro em meio ponto – afirma.