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Mercado espera oferta de ações do BB e da Telemar

Guarulhos, 27 de março de 2002

arteO sucesso alcançado com a venda de ações da Vale do Rio Doce, através de recursos do FGTS – a procura foi três vezes maior do que o volume disponível para a venda de R$ 1 bilhão -, deve levar o governo a adotar o mesmo mecanismo para vender papéis de outras empresas, caso do Banco do Brasil e da Telemar. A opinião é de analistas da área financeira, ouvidos pelo Diário do Comércio, que acreditam que a receita deve ser repetida mais vezes e, se possível, logo. O BNDES possui participação tanto no Banco do Brasil como na Telemar, como também tinha na Vale do Rio Doce e na Petrobrás, o que possibilitou a oferta pública de ações pelo governo. Isto torna as duas empresas as próximas da lista, na avaliação do mercado.

Telemar primeiro – Para Mauro Giorgi, analista de Investimentos da Corretora Novação, a Telemar é hoje a mais preparada das duas empresas para passar pelo processo de oferta pública de ações. Nem mesmo as perdas registradas neste ano pela companhia devem ser vistas como um impedimento para aplicar na empresa, já que se tratam de saídas referentes a investimentos em infra-estrutura. “O descasamento no balanço da empresa é proveniente de investimentos para uma região que tem ainda muito potencial para crescer, como é o caso da região Nordeste.” No ano, até a última segunda-feira, as ações ordinárias da empresa acumulam perdas de 14,26%. Segundo Giorgi, este número pouco representa para quem olha para o longo prazo. Ele só indica o investimento para quem pretende manter a aplicação por pelo menos 24 meses, quando o retorno dos investimentos deve ocorrer.

Modelo inglês – Mesmo que a decisão do governo não seja pela oferta pública de ações da Telemar, Giorgi diz que a iniciativa de oferecer os papéis de forma pulverizada de grandes companhias é sempre bem vista. “Na Inglaterra foi adotado o mesmo modelo por ocasião da privatização das ferrovias e companhias de energia elétrica.” Marcelo Beraldo, diretor de Informações da Sul América Investimentos – um dos bancos participantes das ofertas públicas da Vale e da Petrobrás -, também acredita que o governo continuará investindo neste tipo de iniciativa. “Já ficou mais do que provado com a Vale de que há potencial para esse tipo de venda, principalmente porque a remuneração paga no FGTS é muito pequena”, diz.

O desconto oferecido na hora da compra – no caso da Vale ele foi de 5% sobre o preço do papel – é outro ponto favorável da oferta pública listado pelo executivo. “O desconto tem que ser mantido, porque senão o investimento pode não ser tão atraente para quem quer investir com recursos próprios”, explica.

Sinal – O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, Eleazar de Carvalho, já admitiu que outras empresas podem seguir o mesmo caminho trilhado pela Petrobrás e pela Vale, “mas que ainda não há nada definido”. No caso da Vale, mais de 700 mil trabalhadores fizeram a reserva para a compra de ações da mineradora, o que correspondeu a um volume financeiro de R$ 3,4 bilhões.

Decepção – Segundo Beraldo, da Sul América, os investidores se sentiram decepcionados ao receber a notícia de que, no final, só poderiam investir 30% do que haviam reservado. “São esses 70% de recursos que restaram da Vale que o governo poderia captar com a venda de ações de outras companhias.” O diretor de Captação do Unibanco, Marcos Buckton, acredita que a iniciativa do governo deve criar uma cultura no brasileiro de investir no mercado de capitais. “Até quem investia em ações no passado deixou de fazê-lo em conseqüência da inflação em alta e do descontrole do mercado financeiro”, diz.

Adriana Gavaça