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Liquidação em tempo real

Guarulhos, 02 de julho de 2012

O comércio está preocupado e se ressente da queda de rentabilidade que a antecipação, cada vez mais acentuada, das coleções de roupas, sapatos e acessórios provoca nas suas operações, pela necessidade de liquidações também antecipadas, para girar estoque e honrar pagamentos.

A dinâmica, apontam alguns lojistas, também dificulta a apresentação continuada, ao longo de cada temporada, de novidades para atrair a clientela. Não se pode dizer que haverá uma rápida solução ao problema, mas alguns lojistas e fabricantes já conversam abertamente sobre o assunto.
 
O varejo e a indústria de calçados, por exemplo, se organizam para estabelecer um calendário de encontros, a partir dos quais possam chegar a um consenso sobre a melhor forma de integrar seus cronogramas. No cenário atual, o varejo do ramo, especialmente o de pequeno porte, se sente pressionado pela dinâmica dos fornecedores e suas coleções cada vez mais antecipadas. Entre as consequências, ratificam, estão a perda de rentabilidade e as liquidações antecipadas – como as que já estão anunciadas neste início de inverno.
 
Exportações – A dinâmica se tornou mais acentuado há cerca de um ano e meio pelo efeito que o câmbio e a crise internacional provocaram nas exportações brasileiras, empurrando o setor produtivo para o mercado interno, analisa Marconi Leonel Matias dos Santos, diretor superintendente da Calçados Itapuã, marca com indústria no Espírito e rede própria de 112 lojas. “A diminuição da exportação adiciona uma competição maior. E uma das variáveis que define a competição é a agilidade”, afirmou o diretor.
 
Na manhã de ontem, o executivo mediou debate sobre o tema, durante seminário com fabricantes e lojistas do ramo, aberto com palestra do consultor especialista em varejo, Marcos Gouvêa de Souza (GS&MD) – “Repensando a cadeia de valor do calçado, da indústria ao consumidor”. O evento aconteceu no âmbito da 44ª Feira Internacional da Moda em Calçados e Acessórios (Francal), que termina hoje na Capital paulista, por iniciativa da Associação Brasileira de Lojistas de Artefatos e Calçados (Ablac) e da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados).
 
Rentabilidade – A despeito das posições aparentemente antagônicas entre fabricantes e lojistas do setor, Santos interpreta que não há um conflito direto entre as partes e que é preciso aprofundar a discussão, para se trabalhar em conjunto. “A rentabilidade depende de ambos”, afirmou.
 
De acordo com as entidades envolvidas na discussão, o seminário de ontem foi o primeiro encontro aberto para tratar do assunto. Francisco Santos, presidente da Couromoda, patrocinadora do seminário, em parceria com a Francal, prometeu uma segunda edição do encontro para janeiro de 2013, durante a feira que ele preside.
 
Agenda – A Abicalçados também anunciou que dará continuidade às discussões, por meio dos sindicatos, em encontros nos polos calçadistas do País. A proposta é estabelecer uma agenda comum à indústria e aos lojistas, afirmou o diretor executivo da entidade, Heitor Klein.
 
Segundo os especialistas, a discussão tem que ser segmentada, conforme o porte do varejo e também para contemplar a dimensão continental do Brasil, com suas demandas regionais. “Não dá para se ter uma posição padrão”, disse o mediador Marconi.
 
O presidente da Ablac, Carlos Ajita, compartilha da análise e acrescenta que o problema da antecipação das coleções e das liquidações se acentua nas vendas do período de inverno, com menor tempo para comercialização, na comparação com o verão.
 
No círculo vicioso que se estabeleceu, o lojista se vê obrigado, até pela pressão de grandes concorrentes, a antecipar a exposição dos produtos da temporada seguinte.
 
Na platéia do seminário, a lojista paulistana Adriana Galvão, da Estúdio Ag Shoes, contou que no final de julho de 2011 – em plena comercialização da coleção de inverno – recebeu as encomendas da primavera-verão, compradas entre abril e maio daquele ano. “Se eu guardo para lançar entre setembro e outubro, os grandes varejistas já terão lançado”, disse. Na mão inversa, o consumidor deixa de ir à loja se, ao longo da temporada, não encontrar novidades. Além disso, acrescenta Adriana, há a necessidade de se fazer girar o estoque, para pagar o fornecedor. Protelar as compras também é temerário, explica Adriana, por causa da logística de entrega.