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Investe em ações? Faça valer seus direitos de sócio
Já parou para pensar que tipo de sócio você é? É daqueles que aparecem nos eventos de apresentação de balanços e está sempre de olho nos comunicados ou não sabe nem a data de recebimento de dividendos? Caso se encaixe na segunda definição, precisa ficar atento: ter o máximo conhecimento sobre a empresa em que investe garante risco menor na hora de tomar decisões no mercado.
“Quem compra um imóvel estuda tudo: a localização, a qualidade da construção, o condomínio, os gastos, a vizinhança. Quem quer comprar e manter uma ação também precisa fazer esse estudo, só que de informações econômico-financeiras da empresa”, aconselha o vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri) e superintendente de Relações com Investidores do Itaú Unibanco, Geraldo Soares.
Canais à disposição
Os especialistas recomendam ao pequeno investidor o acompanhamento das empresas em todos os canais disponíveis: telefone, internet, e-mail do setor de Relações com Investidores (RI), participação em reuniões públicas da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), presença em assembleias de votação e conversas com analistas das corretoras e bancos.
O investidor que quiser se aprofundar deve estudar termos técnicos para entender algumas informações que constam do Formulário de Referência, um documento apresentado pelas companhias de capital aberto há dois anos. “Ele ajuda o aplicador a tomar decisões, por reunir as informações sobre a operação, com os pontos fortes e fracos”, diz Soares. Segundo ele, aos poucos as empresas buscam conhecer melhor seus acionistas e organizam cada vez mais encontros com pessoas físicas em outras cidades além de São Paulo.
“É um processo de criação de uma cultura de mercado no País. As reuniões da Apimec promovem um contato importante. Em geral, de 60% a 70% das pessoas físicas que participam desses eventos perguntam sobre distribuição de dividendos”, afirma o vice-presidente do Ibri.
A superintendente de Relações com os Acionistas do Banco Santander, Silvia Vilas Boas, diz que, de tanto receber dúvidas sobre o assunto, o banco decidiu disponibilizar no site uma calculadora para que os investidores possam calcular o quanto têm a receber em dividendos e proventos. “Outras dúvidas comuns do acionista pessoa física são o preço da ação e a forma de inserir a aplicação na declaração anual de renda”, diz Silvia. O banco, que têm 200 mil pessoas físicas como acionistas, recebe cerca de 600 consultas por mês.
Votos em assembleias
A executiva do Santander destaca a importância de as pessoas físicas se informarem sobre seus direitos como acionistas. “Muitos não sabem que têm direito a votar em assembleias por também serem donos da companhia”, relata Silvia, lembrando que o banco pretende organizar seis encontros ao longo deste ano, em várias regiões do País.
O engenheiro naval Eduardo Cordeiro é um bom exemplo de pequeno acionista atento ao desempenho das companhias abertas. Ele costuma ir às reuniões públicas da Apimec, mesmo que não seja um investidor da empresa que esteja fazendo a apresentação. “Invisto na bolsa desde 2000 e já tive de sair porque precisei do dinheiro. Costumo ir às reuniões porque um analista tem um ponto de vista diferente de outro e gosto de ouvir as opiniões. É importante para minha atualização.”
Cordeiro tem ações da Petrobras e do Bradesco, mas aproveitou a apresentação dos resultados da BM&FBovespa, no último dia 15, para conferir os resultados de 2011 da bolsa e, ainda, pedir informações a analistas sobre quanto a empresa paga em dividendos.” Este foi o sexto ano consecutivo em que a BM&FBovespa apresentou o balanço em um evento público. A empresa tem 76,9 mil acionistas pessoas físicas.
O presidente da Apimec, Reginaldo Alexandre, afirma que são realizadas 200 reuniões para apresentações de resultados por ano. “As empresas estão mais preocupadas em apresentar suas informações para a pessoa física, que acaba tendo uma oportunidade única de falar diretamente com os diretores e executivos da companhia na qual investe”, afirma o dirigente da entidade.
O que perguntar? Como perguntar?
O educador financeiro Mauro Calil diz que mais do que informações, a pessoa física deve buscar aprimorar a análise dos números de crescimento, lucro, vendas e potencial de crescimento para saber, por exemplo, se a ação de uma empresa está com bom preço ou se a indicação de um analista é boa ou não. “É preciso saber que o potencial de uma ação subir 30% pode ser bom ou não. Se for em um mês é positivo, mas se torna negativo se for em quatro anos.”
O consultor de investimentos da Geração Futuro, Daniel de Moraes, afirma que as principais dúvidas de quem começa a investir na bolsa são o quanto o papel vai render em cinco anos ou nos próximos meses. “Quando o mercado está ruim, a pessoa física se preocupa. Mas quando está bom, eles querem saber onde aplicar mais”, diz.
Contato pela Web ganha espaço Mesmo com o número
crescente de reuniões públicas, as empresas investem no aperfeiçoamento dos sites das áreas de Relações com Investidores (RI). O vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri) e superintendente de Relações com Investidores do Itaú Unibanco, Geraldo Soares, diz que esses canais na internet evoluíram muito nos últimos sete anos.
“Eles têm informações corretas e devem ser usados também para esclarecer dúvidas com os profissionais de RI”, afirma o executivo. O Comitê de Orientação e Divulgação de Informação de Mercado (Codim), nascido da parceria de diversas entidades do mercado financeiro, estabelece formas para a apresentação de dados. As empresas precisam, por exemplo, oferecer aos acionistas resultados trimestrais, relatórios anuais, formulários de referências e manuais de assembleias em vários formatos de download.
Rodrigo Azevedo, da RIWeb, empresa especializada em sites de RI, diz que tem aumentado o número de empresas que fizeram um “upgrade” em suas páginas, de dez para 75 em três anos. “Os sites eram enormes pendrives de arquivos pdf. Agora são veículos de comunicação, com manchetes sobre os resultados da empresa, com menor quantidade de menus, para facilitar a navegação, e ferramenta de busca.” Azevedo defende também a inserção de vídeos com mensagens do departamento de RI e atualizações nas redes sociais – com a divulgação da variação das cotações de papéis no twitter, por exemplo. “Os sites têm de se modernizar porque o investidor usa cada vez mais dispositivos móveis que rodam em navegadores para iPad e Android”, afirma.
Uma das empresas que investiu em seu site de RI é a GPC Participações S.A., uma holding de investimento da família Peixoto de Castro, que tem negócios nas áreas de tubos de aço, química, petroquímica e energias renováveis. O grupo reestruturou toda a área de RI e aproveitou para desenvolver o site. O investimento foi de cerca de R$ 50 mil. A página na internet, lançada na segunda quinzena de dezembro, tem todas as informações sobre as empresas da GPC e é um canal de aproximação importante com a pessoa física.