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Indústria enfrenta recessão “técnica”

Guarulhos, 07 de agosto de 2003

ArteA indústria fechou “tecnicamente” em recessão o primeiro semestre e acentuou em junho os dados negativos de produção. Os resultados divulgados quarta-feira (06) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registraram uma estagnação (0,1%) do setor no primeiro semestre e queda de 2,1% na produção em junho, ante igual mês do ano passado. Na comparação com maio, a redução chegou a 2,6%.

Os números surpreenderam o mercado e puxaram para baixo as previsões para o desempenho da economia no ano. O coordenador do Departamento de Indústria do IBGE, Silvio Sales, disse que a recessão técnica é confirmada pelas duas quedas consecutivas trimestrais ocorridas na produção, na comparação com trimestres imediatamente anteriores.

Houve queda de 1% no primeiro trimestre, ante o último trimestre do ano passado, e redução de 2,6% no segundo trimestre ante o primeiro trimestre deste ano. “Esses dados mostram que a indústria está em recessão”, disse. Segundo ele, a piora do quadro industrial no período de abril a junho pode ser explicada pela queda da demanda doméstica, causada pela baixa capacidade de consumo interno.

Na comparação com iguais trimestres de 2002, a produção cresceu 2,5% no primeiro trimestre e registrou queda de 2,1% no segundo. Os segmentos da indústria especialmente vinculados à demanda interna acentuaram no segundo trimestre a desaceleração da produção já detectada no primeiro – em relação aos mesmos períodos do ano passado. Esse foi o caso dos eletrodomésticos (-7,3% no primeiro trimestre e -13,3% no segundo), calçados (-2,5% e -9,5%), artigos do vestuário (-17,5% e -22,7%), cimento (-8,8% e -14,8%), embalagens (-4,4% e -6,5%) e automóveis (1,4% e -11,1%).

A indústria chegou ao pior momento deste ano em junho, com sinais fortes de queda de investimentos. Os efeitos da queda da demanda interna, que já eram visíveis nos bens duráveis e não-duráveis, chegaram aos setores de bens de capital e intermediários. “As exportações continuam dando sua parcela de contribuição para o setor, mas não seguram mais um crescimento da média da indústria por causa dos problemas da demanda interna”, disse Sales.

Todas as categorias de uso apresentaram queda na produção em junho, ante igual mês do ano passado: bens de capital (-6,4%), intermediários (-2,6%), bens de consumo durável (-2,5%) e bens de consumo não durável (-0,6%). Segundo Sales, a queda em bens de capital aponta retração de investimentos no setor, como resultado da perspectiva pessimista em relação a possível aumento da demanda nos próximos meses.

Revisão – Os números da indústria divulgados, levaram o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, e a Tendências Consultoria a revisarem para baixo as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB). O diretor do Ipea, Paulo Levy, adiantou que uma estimativa de variação menor que o aumento de 1,6% previsto anteriormente será divulgada no próximo boletim de conjuntura da instituição, no início de setembro. A Tendências também refez as projeções e espera um aumento 1% no PIB neste ano, ante 1,3% previstos anteriormente.

Levy disse que a revisão do Ipea não será “drástica” porque a projeção anterior levava em conta uma trajetória de juros mais gradual e em menor intensidade do que ele acredita que irá ocorrer a partir de agora. Segundo ele, as quedas mais intensas que o esperado na produção industrial ocorreram porque “a desaceleração está mais forte em conseqüência da própria eficácia da política monetária”.