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Inadimplência, um bom negócio

Guarulhos, 11 de julho de 2002

arteA inadimplência, que em maio atingiu 15,2% dos R$ 76,5 bilhões em cheques emitidos, alimenta uma indústria que vive de proteger o varejo, os bancos e até as prestadoras de serviço público do calote. Empresários do setor estimam que essa indústria movimente, por ano, em torno de R$ 2 bilhões. Somente as quatro maiores empresas de informação, verificação e garantia de cheque, juntamente com a maior firma do setor de cobrança, faturaram aproximadamente R$ 600 milhões no ano passado. Um bom negócio que teve seu boom de crescimento a partir do Plano Real, com o aumento do crédito ao consumidor:

” Das 120 empresas que atualmente operam com cheques, cerca de cem nasceram depois do Real. A expansão do crédito levou ao aumento da inadimplência e à demanda por esse tipo de serviço ” explicou Carlos Pastor, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Informação, Verificação e Garantia de Cheques (Abracheque).

Na área de cobrança, são cerca de 700, estima Rogério Bonfiglioli, presidente da Associação das Empresas de Recuperação de Crédito:

” Mas esse número pode ser bem maior. Muitos escritórios de advocacia atuam nessa área ” afirma Bonfiglioli, que não tem os números do faturamento do setor.

” O mercado é muito pulverizado, a associação está tentando há quatro anos chegar a esses números.

Segundo Sérgio Zacchi, vice-presidente da Telecheque (empresa que faturou R$ 38,5 milhões em 2001 e projeta para este ano faturar R$ 42 milhões com o mercado do cheque), o auge do crescimento do setor aconteceu antes, entre 93 e 95, com a popularização do cheque pré-datado:

” Nos últimos quatro anos, o crescimento ficou entre 4% a 5% ao ano ” disse Zacchi.

Mais de R$ 1,8 bilhão recuperados – Julio Shinohara, diretor de Marketing e Negócios do Grupo Unidos, a maior empresa de cobrança do país e da América Latina, contesta a teoria de que a inadimplência é boa para o setor ” somente em 2001, a empresa recuperou R$ 1,8 bilhão para seus cerca de cem clientes. Segundo ele, as empresas ganham proporcionalmente aos créditos que conseguem recuperar, num percentual que varia entre 5% e 35%:

” Quando a inadimplência sobe, fica mais difícil essa recuperação.

Mas o consumidor pode sofrer com essa prevenção vendida para o varejo. O recepcionista Fernando Bittencourt está sem crédito há mais de um ano, desde que usaram seus documentos para abrir uma conta bancária. Entrou na Justiça contra a Telecheque, por não ter sido avisado da inclusão na lista de restrição cadastral. Ganhou em primeira instância o direito a receber uma indenização de R$ 10 mil. Segundo Zacchi, da Telecheque, a empresa já recorreu e somente vai falar sobre o caso quando o processo estiver encerrado.