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Guerra faz investimentos estrangeiros no Brasil desabarem

Guarulhos, 27 de março de 2003

O anúncio da guerra entre Iraque e Estados Unidos aparentemente levou à uma “parada estratégica” nos investimentos no Brasil.

A afirmação foi feita pelo chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, como uma das justificativas para o baixo volume de investimentos estrangeiros diretos que o país vem recebendo no mês de março.

Até hoje, ingressaram no país, no mês, apenas US$ 200 milhões, o que leva o BC a prever que, no mês fechado, os investimentos diretos somem apenas US$ 400 milhões. Esse é um volume baixo para os investimentos, que em março de 2002 somaram US$ 2,363 bilhões.

Segundo dados históricos do BC, o volume de investimentos em março, se confirmados os US$ 400 milhões, será o menor para meses de março desde 1995, quando no mês foi registrada uma saída líquida de US$ 22,1 milhões. Nos anos seguintes, todos os meses de março tiveram investimentos diretos superiores a US$ 1,5 bilhão.

“Os agentes adotaram uma postura mais conservadora”, afirmou Lopes. Ele acrescentou ainda que o baixo fluxo do mês de março está “altamente contaminado” por um retorno de US$ 300 milhões em investimentos que estão deixando o país.

Lopes afirmou, no entanto, que a guerra pode estar influenciando os resultados correntes dos investimentos diretos, mas não deverá afetar o volume previsto de ingressos para 2003.

O técnico do BC disse que a redução nas projeções de investimentos diretos para o ano, de US$ 15 bilhões para US$ 13 bilhões, já anunciada no início desta semana, levou em conta o baixo resultado previsto para março e o fato de os investimentos de janeiro terem ficado abaixo do projetado, em US$ 905 milhões.

Segundo Lopes, essa previsão de US$ 13 bilhões de investimentos no ano é “conservadora”, pois os fluxos poderão superar esse montante. “As projeções mudam sempre à luz dos resultados obtidos”, disse.

Ele afirmou que as projeções para o ano não levam em conta os efeitos da guerra, pois investimentos diretos são recursos de longo prazo e, por isso, as decisões dos investidores são tomadas com antecedência. “As projeções têm sido mantidas em patamares bastante razoáveis”, disse.

Apesar do baixo fluxo de investimentos em março, Lopes afirmou que os ingressos serão suficientes para cobrir o déficit em transações correntes que deverá ficar próximo de zero no mês.

Ele destacou ainda que enquanto os investimentos estrangeiros diretos apresentam redução, está havendo uma melhora nas taxas de rolagem para operações de crédito. Em janeiro, a taxa de rolagem estava em 17% e, em fevereiro, já subiu para 86%.

“Já sabíamos que íamos contar com uma situação de liquidez diferente” , afirmou Lopes, referindo-se aos investimentos diretos. Ele insistiu, no entanto, que o mais importante para as contas externas é o ajuste nas transações correntes, o que tem permitido que, mesmo reduzidos, os investimentos financiem inteiramente o déficit em conta corrente.

Sandra Manfrini