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Greve do judiciário continua e já dura 87 dias

Guarulhos, 23 de setembro de 2004

O inferno de 12 milhões de processos parados vai continuar assombrando a população de São Paulo. Nesta quarta-feira, 22, em uma tumultuada assembléia no centro da capital, os servidores do Judiciário decidiram manter a greve que se arrasta há 87 dias. Não foi uma votação maciça. Boa parte dos grevistas manifestou-se pela suspensão do movimento, acuados pelas ameaças do Tribunal de Justiça (TJ) de corte do ponto e processos disciplinares que podem mandá-los para a rua.

“O TJ não negocia e tenta nos intimidar. Estamos amparados por um direito constitucional”, declarou José Gozzi, um dos líderes do movimento. Segundo cálculos das entidades de classe, havia 12 mil servidores na assembléia – para a polícia, 5 mil. Gozzi calcula que “entre 70% e 75%” dos servidores aderiram à greve. São 43 mil na ativa no Estado.

No início da campanha, os grevistas queriam 39% de reposição, índice relativo a perdas com a inflação nos últimos dois anos. Com dois meses de paralisação, a Corte anunciou concessão de 26% e publicou no Diário Oficial, mas recuou, alegando que o governo não teria recursos para cobrir o reajuste. Os grevistas afirmam que fecharam em 18% e combinaram um mutirão para pôr em dia as ações engavetadas pela greve. “A população está sendo sacrificada por um sistema atrasado e sem equipamentos. Um processo, independente da greve, leva até 6 anos para ser julgado”, disse Gozzi.

Punições – O juiz assessor da presidência do TJ, desembargador José Raul Gavião de Almeida, informou que o reajuste de 14,58% foi a última oferta do Judiciário. E ressaltou que as punições não vão demorar. “Os contra-cheques do próximo mês foram rodados com o desconto de todos os dias de paralisação”, declarou.

O TJ vai ainda abrir processos para demitir os servidores que continuarem em greve. Para os que retornaram ao trabalho, não haverá desconto dos dias parados. Uma resolução do Tribunal definiu que será feita uma compensação sobre férias e licença-prêmio.

Com a decisão dos grevistas, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Edson Vidigal, defendeu a ameaça de demissão e voltou a falar em intervenção federal.