FMI minimiza risco de deflação global
O FMI (Fundo Monetário Internacional) considera pequeno o risco de deflação global, mas alerta que a Alemanha é o país desenvolvido com maior chance de entrar num período de deflação, que já atinge o Japão. Já ministros das Finanças de países do G-7, que se reuniram no sábado em Deauville, na França, buscaram minimizar a ameaça. O comunicado final da reunião não mencionou nenhuma medida de curto prazo para afastar o temor de recessão na Europa, apesar da pressão dos EUA para estímulos ao crescimento da região.
O estudo do FMI sobre deflação, divulgado em Washington, mobilizou economistas de diversos departamentos do Fundo, supervisionados pelo economista-chefe Kenneth Rogoff. Além do risco de deflação alemã, o Japão poderá enfrentar aprofundamento das taxas atuais, que poderão subir para mais de 2%. Uma deflação na Alemanha poderia se espalhar para outros países europeus por meio do sistema financeiro, especialmente para Bélgica, Finlândia, Noruega, Portugal, Suécia e Suíça.
O documento foi fechado em março, antes da confirmação, na última sexta-feira, de deflação nos EUA, com queda de 0,3% dos preços ao consumidor em abril, e do agravamento da deflação no Japão.
O estudo previa que só haveria uma leve deflação nos EUA se a taxa de desemprego atingisse 8%. A taxa ficou em 6% em abril, mas mesmo assim os preços ao consumidor caíram. Segundo o FMI, a deflação só persistirá nos EUA se a taxa de desemprego superar 10%.
Sobre a economia alemã, o FMI lembra que as condições de crédito e renda vêm se deteriorando desde 2001, assim como o mercado de trabalho. Os preços dos imóveis estão caindo, e as bolsas perderam mais na Alemanha que em outros países. A situação é agravada pelo sistema bancário, que está passando pelo período mais difícil desde a Segunda Guerra Mundial.
“A probabilidade de deflação na Alemanha ao longo do próximo ano é considerável”, afirma o FMI, notando que há pouquíssimo espaço de manobra para a política fiscal (o déficit fiscal terá que ser reduzido este ano para 3%, ajustando-se às normas do euro). O FMI lembra que o BCE (Banco Central Europeu) ainda está preocupado com preços em outros países da região para reduzir juros agora e que o pacto da moeda única européia não permite aumento do déficit fiscal, ainda que temporário.
Sobre a situação nos EUA, o FMI diz que vários choques afetaram o consumo no último ano, como escândalos contábeis, queda nas bolsas, ataques terroristas de 11 de setembro e a guerra do Iraque. O crédito está 7,5% acima do nível de março de 2002, e a situação do sistema bancário é ” relativamente saudável “. O fundo lembra que o Federal Reserve (BC americano) tem expressado preocupação com o risco de deflação e adotado uma política monetária agressiva (as taxas de juros estão no menor nível em mais de 40 anos), além de ressaltar a política fiscal expansionista do governo Bush. Mas há preocupação com excesso de capacidade instalada em diversos setores.
Citando os efeitos de períodos catastróficos de deflação, como a Grande Depressão dos anos 30, o FMI lista possíveis conseqüências da redução persistente de preços. Uma das principais é o corte de linhas de crédito pelos bancos, que não conseguem recuperar o dinheiro emprestado pois as garantias do crédito (imóveis ou outros ativos) caem abaixo do valor do principal. Essa é uma das razões da crise do sistema bancário japonês.
Pouco antes da divulgação do estudo, o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, pedia na França ação mais enérgica da Europa para recuperar o crescimento. “Temos que fazer mais para assegurar uma recuperação robusta.”
Apesar da crescente pressão para redução dos juros na Europa, a reunião dos ministros das Finanças do G-7 terminou com uma declaração em favor de reformas estruturais e não de soluções de curto prazo para evitar o risco de recessão em diversas economias.
O comunicado dos ministros não tocou em mercados de câmbio nem mencionou a queda do dólar, que na semana passada atingiu os menores níveis em quatro anos em relação ao euro. O comunicado da reunião, preparatória para o encontro de chefes de Estado em junho, preferiu ressaltar o compromisso com reformas de longo prazo.