Empresas brasileiras importam menos insumos
De acordo com estudo de economistas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) sobre o coeficiente de importação, as empresas brasileiras importavam 21% dos insumos usados na produção em 1998, em 1999 o percentual caiu para 17% e ficou em 18% em 2000. “Não atualizamos o estudo para 2001, mas com certeza o novo patamar se consolidou. Basta ver a queda nas importações maior que a das exportações, o que significa que a causa não é só a retração da economia mundial”, diz Fernando Pimentel Puga, economista do BNDES e um dos autores do estudo. No primeiro trimestre as importações recuaram 25%, parte em razão da substituição de importados.
Para o economista do BNDES, dos setores que mais dependem de insumos importados para a sua produção, o químico é o que reúne melhores condições de fazer a substituição por produtos nacionais. “Na petroquímica, por exemplo, temos empresas bem estruturadas, como Copel e Copene, e o BNDES deve apoiar os investimentos previstos”, diz Pimentel Puga. No planejamento do banco para 2000/2005 entre as metas estipuladas está o apoio ao setor tanto na reestruturação societária, como na integração das principais empresas nos pólos petroquímicos.
O investimento realizado pela Monsanto do Brasil é um dos exemplos mais recentes de substituição no setor químico. A empresa aplicou US$ 350 milhões na fábrica de Camaçari na Bahia e desde o início do ano deixou de importar US$ 37,5 milhões do ácido fosfoetil Iminodiacético (matéria-prima para a fabricação do herbicida Roundup), e exportou US$ 37,5 milhões para a unidade da Argentina.
“Vamos contribuir com a balança comercial deste ano em US$ 300 milhões, sendo US$ 150 milhões em importação não realizada e a outra metade em exportações”, diz o gerente de assuntos corporativos da Monsanto, Alfredo Miguel. As vendas para a unidade da Argentina caíram um pouco em razão da crise, mas o excedente é exportado para outra fábrica da Monsanto na Bélgica.
Com isto a balança comercial da empresa passa a ser positiva. “O maior volume das nossas importações era esta matéria-prima, o resto é insignificante. Vamos ter superávit comercial agora”, diz Miguel, ressaltando a importância da mudança em um segmento em que quase todas as empresas têm déficit comercial.
Todo o setor químico tem déficit estrutural na balança comercial. Desde 1997 anualmente o saldo é negativo em torno de US$ 6 bilhões. No ano passado, as importações superaram as exportações em US$ 7,2 bilhões. “Ficamos surpresos, porque foi um ano de menor demanda interna e imaginávamos que as exportações pudessem ter melhor desempenho que as importações. Mas a crise nos Estados Unidos e Japão fez os preços internacionais caírem e as importações ficaram muito atraentes”, afirma Guilherme Duque Estrada de Moraes, da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
Algumas empresas começam a melhorar as exportações neste início de ano. A Basf , por exemplo, obteve no primeiro trimestre crescimento de 73% nas vendas externas de poliestireno para atender principalmente os mercados do Nafta e da União Européia. O que foi possível em razão de ter concluído em dezembro a expansão de sua fábrica de poliestireno (alto impacto e cristal).
A empresa já havia feito investimento de US$ 30 milhões para inauguração em setembro do ano passado na fábrica de acrilato de butila no Complexo Químico de Guaratinguetá (SP). O produto até então era importado. No mês passado inaugurou mais uma fábrica, para produção em escala mundial do Styroporâ (um poliestireno expansível). O investimento foi de US$ 10 milhões.
No setor de informática – outro com déficit comercial estrutural que não sai do patamar de US$ 1,4 bilhão ao ano (só caiu pouco em 1999, quando foi de US$ 1,06 bilhão) – a substituição é mais difícil por exigir domínio de tecnologia.
Neste caso, estudo setorial do BNDES aponta a necessidade de atrair empresas estrangeiras para produzir aqui os componentes.
Este também é o caminho defendido pela Abinee e pela Eletros, representantes da indústria de eletroeletrônicos. A discussão faz parte do fórum de competitividade criado pelo governo para buscar soluções para o setor, mas que até agora não apresentou resultados. “Realmente o fórum avançou pouco nestes dois anos. A questão é estimular a produção no Brasil sem criar uma reserva de mercado. Não podemos ser obrigados a comprar aqui, se o produto no mercado internacional é mais barato”, diz Paulo Saab, presidente da Eletros.
A coreana Samsung viu na decisão de produzir discos rígidos aqui no Brasil a possibilidade de ganhar fatias do mercado informal, chamado cinza, que movimenta 1,8 milhões de PCs por ano. Estes computadores montados em pequenas oficinas têm como prioridade o preço baixo. Produzindo o disco rígido aqui a Samsung espera oferecer preço semelhante, com garantia de qualidade.
Para isto, investiu R$ 100 milhões na sua fábrica instalada na Zona Franca de Manaus.
Apesar das dificuldades, a substituição de importações tem acontecido independente de qualquer ação do governo. O movimento voluntário do setor privado está relacionado com o realinhamento dos preços relativos entre bens domésticos e externos, como conseqüência da desvalorização cambial, sem que houvesse a disparada da inflação. “Os preços relativos estão indo para o lugar certo, por isso naturalmente o setor privado se dirige a exportação ou substituem importações”, diz Barbosa do BBV.
A Scania é um exemplo de empresa que começa a buscar a substituição de importados em razão dos preços. Cerca de 60% dos componentes empregados na montagem de um veículo Scania no Brasil são custeados, direta ou indiretamente, em dólar. Em razão disto a empresa reajustou em 25% os preços dos caminhões, no início do ano. Uma decisão que lhe custou a histórica liderança em veículos pesados nos primeiros meses de 2002.
Para tentar reverter esta situação, a montadora, instalada em São Bernardo do Campo (SP), entende que precisa aumentar o índice de nacionalização e busca parceria com fornecedores escandinavos.