Consumidor paga conta da economia de energia
Boa notícia: com o racionamento, o consumidor residencial aprendeu a economizar energia. Má notícia: o gasto inferior deve ter como consequência um reajuste maior nas tarifas.
No ano passado, no Estado de São Paulo, o consumo de energia das casas foi 2% menor do que em 2001 “ano em que começou o racionamento, no 2º semestre.
Segundo os dados da Secretaria de Estado da Energia, o consumo de luz dos paulistas como um todo ficou praticamente estável em 2002, ao apresentar leve alta de 0,8%, puxada principalmente pelas indústrias, que consumiram 2,2% a mais do que em 2001.
Bom para uns, ruim para outros: como os consumidores residenciais pagam tarifa mais alta, a economia reduziu a rentabilidade das redes das distribuidoras.
“A rede de distribuição é a mesma, mas, com o consumo menor, ela fica subutilizada, e o retorno é menor. Quando esse dado é analisado na hora do reajuste, chega-se à conclusão de que a tarifa deve subir mais”, afirmou Sergio Tamashiro, 38, analista do setor de energia do Unibanco.
Isso porque, segundo Tamashiro, a fórmula para o cálculo do reajuste leva em conta a remuneração que a distribuidora obtém. “Se ela não é adequada para o equilíbrio da empresa, isso é compensado no reajuste da tarifa.”
Então, o consumidor é punido por economizar? “Infelizmente, o consumidor não tem benefício ao poupar. É uma perversidade do modelo”, disse Tamashiro.
Essa “perversidade” pode ser traduzida nos números das distribuidoras. Na comparação dos períodos de 1º de janeiro a 30 de setembro de 2001 e de 2002, a Eletropaulo verificou aumento de 6,8% no total de clientes residenciais, queda de 8,3% no consumo dessa classe e elevação de 25% na receita.
Embora não esperassem por uma volta do consumo aos níveis pré-racionamento, as empresas foram pegas de surpresa com esse nível de economia ainda maior do que o da época de restrição.
Marco Antonio Siqueira, 45, diretor de planejamento de comercialização da CPFL, diz que a empresa se preparava para uma recuperação do consumo das residências, não um decréscimo em relação ao racionamento.
“Nosso planejamento se baseou numa recuperação parcial do consumo nos setores residencial e comercial”, afirmou.
FABÍOLA SALANI