Notícias

Como ganhar com os indicadores da economia

Guarulhos, 01 de abril de 2002

arteO mercado financeiro partia da premissa que a economia como um todo estava com pneumonia se o presidente da República espirrasse. E os ativos negociados nas Bolsa de Valores, no câmbio e no mercado aberto se orientavam mais por essa suspeita do que pelos fundamentos econômicos. A visão é do vice-presidente do Comitê de Banking da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Oswaldo Calixto, que reconhece que o mercado hoje está mais sensível aos indicadores da economia. “O modo de pensar do mercado evoluiu à medida que a importância dada aos indicadores econômicos também aumentou. De tal forma que uma mesma conjuntura pode permitir diferentes leituras, às vezes até contraditórias. E ser fundamental para determinar os ganhos dos aplicadores”, disse.

Por ter grande influência dos movimentos especulativos, qualquer fato que possa causar um distúrbio na economia é capaz de refletir na Bolsa de Valores. “Tudo no mercado acionário gira em torno de expectativas quanto aos assuntos mais diversos”, declarou.

O mesmo pode ser dito sobre o dólar. Um cambista lembra que qualquer pressão inflacionária pode ser fator de propulsão das cotações da moeda estrangeira no comercial e no câmbio paralelo. E cita como exemplo a Argentina, onde o medo da hiperinflação provocou a explosão da demanda cambial. “O paralelo costuma ser um termômetro da economia. Preço alto, no chamado spread de jacaré (diferença elevada entre a compra e a venda), significa que o Brasil não está bem”, disse.

O professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EPAB-FGV), Istvan Karoly Kasznar, afirmou que a correlação entre macroindicadores econômicos e os ativos do mercado financeiro é bem mais difícil na prática que na teoria.

– Imagine a economia como uma máquina em que cada indicador representa uma peça da engrenagem e o comportamento dos ativos, o resultado de como a máquina funciona. Partindo dessa premissa, não dá para medir o desempenho de um ativo olhando apenas para o funcionamento de uma única engrenagem – ilustrou.

Conta corrente – Termo utilizado internacionalmente para indicar as transações comerciais entre dois países, com respectivos créditos e débitos, ou entre um país e os demais.

Investimento Externo Direto – Quando o capital estrangeiro é aplicado na criação de novas empresas ou na participação acionária em empresas já existentes. O investimento é indireto quando assume a forma de empréstimos e financiamentos a longo prazo. Para o país receptor, o investimento estrangeiros pode ser um meio de estimular o crescimento econômico quando não há poupança interna suficiente. Por outro lado, acentua o grau de dependência econômica e política em relação aos países exportadores de capital.

PIB – Valor agregado de todos os bens produzidos e serviços prestados no país, independente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens ou serviços. É medido a preços de mercado e pode ser calculado sob três aspectos.

– Ótica da produção: o PIB corresponde à soma dos valores agregados líquidos dos setores primário, secundário e terciário da economia, mais os impostos indiretos, mais a depreciação do capital, menos os subsídios governamentais.

– Ótica da renda: calculado a partir das remunerações pagas dentro do território econômico do país, sob a forma de salários, juros, aluguéis e lucros distribuídos. Soma-se a isso, os impostos indiretos e a depreciação do capital. Subtrai-se os subsídios.

– Ótica do despêndio: soma dos despêndios em consumo das unidades familiares e do Governo, mais a variação de estoques, menos as importações de mercadorias e serviços e mais as exportações. Sob essa ótica, o PIB também pode ser denominado como Despesa Bruta Interna.

Balança comercial – Balanço de pagamentos de um país, formado pelo conjunto de todas as importações e exportações. Quando se exporta mais, obtém-se superávit e o país se torna credor do estrangeiro. Caso contrário, obtém-se déficit. O principal fator que influencia a balança comercial são a evolução de preços e volumes do produto negociado.

Reservas cambiais – Acúmulo de divisas que as autoridades monetárias de um país dispõem para saldar eventuais déficits de seus balanços de pagamentos. Também é usada para lastrear a estabilidade cambial.

Selic – É considerada a taxa básica dos juros porque, a partir dela, os bancos definem os juros que pagarão sobre as aplicações financeiras e o quanto cobrarão em empréstimos a pessoas e empresas. No dia 20, o Banco Central decidiu cortar a taxa básica de juros – Selic – em 0,25 ponto percentual, para 18,5% ao ano. Com isso, ganhou quem mantinha aplicações prefixadas, pois irão obter um rendimento maior, enquanto os juros do mercado estão em queda.

Meio circulante – Volume de dinheiro (especificamente, o conjunto de papel-moeda e da moeda divisionária) em circulação no sistema econômico de um país, como parte integrante dos meios de pagamento. O controle do meio circulante constitui instrumento importante de política monetária, tanto em fases de aceleração da atividade econômica e/ou incremento da inflação – quando se torna necessário retirar parte do dinheiro em circulação – quando de depressão ou recessão – caso em que é preciso aumentar o volume de dinheiro.

Dívidas externa – Somatório dos débitos de um país, garantidos por seu governo, resultantes de empréstimos e financiamentos contraídos com residentes no exterior. Os débitos podem ter origem no próprio governo, em empresas estatais ou empresas privadas. No último caso, acontece com o aval do governo.

Dívida interna – Total dos débitos assumidos pelo governo junto às pessoas físicas e jurídicas residentes no próprio país. Sempre que as despesas do governo superam a receita, há necessidade de dinheiro para cobrir o déficit. A autoridade econômica tem três soluções: emissão de papel-moeda, aumento da carga tributária e lançamento de títulos.

Inflação – Processo de aumento geral e persistente dos preços por forças de elevação excessiva da demanda e/ou dos custos dos fatores de produção paralelamente à depreciação do valor da moeda e redução do seu poder aquisitivo. Qualquer que seja a causa original, adquire dinâmica suficiente para se auto-alimentar através de reações em cadeia que configuram a chamada espiral inflacionária. Na ausência de um mecanismo de correção monetária, a inflação tende a favorecer os devedores e especuladores, prejudicando os credores, as classes de renda fixa, os pensionistas e os investidores conservadores.

Volume de crédito – corresponde à soma de todos os empréstimos, financiamentos e repasses realizados em uma economia no período de um ano.

Resultado fiscal – é a conseqüência da diferença entre as receitas e as despesas fiscais. Ou seja, se a receita é maior que a despesa o resultado é de superávit. Se a receita é menor, haverá déficit.

– Resultado fiscal abaixo da linha: é o resultado primário do Governo divulgado mensalmente pelo BC. É calculado deduzindo-se da dívida líquida atual a dívida líquida do período anterior e os juros que incidem sobre esta última.

– Resultado fiscal acima da linha: é o resultado primário do Governo divulgado mensalmente pelo Tesouro Nacional. É calculado simplesmente deduzindo-se das receitas que o Governo aufere todas as despesas nas quais ele incorre.

– Resultado primário: é o resultado das contas do Governo que não leva em consideração os gastos com juros pagos sobre dívidas passadas.

Claude Bornél e Sérgio de Castro