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Começou ontem o julgamento de Suzane von Richthofen

Guarulhos, 18 de julho de 2006

Diário do ComércioComeçou ontem, quatro anos depois do assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen, o julgamento da filha do casal, Suzane von Richthofen, e dos irmãos Daniel e Christian Cravinhos, réus confessos do crime, em outubro de 2002. Em julgamento único, os três foram ao banco dos réus algemados.

O primeiro a depor foi Daniel, que mudou seu depoimento anterior e disse ter matado o casal sozinho. Christian afirmou que teria assumido a co-autoria do assassinato apenas para aliviar a pena do irmão. O último depoimento – o mais aguardado do dia – foi o de Suzane, que começou às 19h50, no Fórum Criminal da Barra Funda. Sua defesa disse que pedirá a anulação do júri.

Ontem, Suzane manteve o mesmo discurso apresentado no programa Fantástico , da TV Globo , em abril: mostrou-se uma menina frágil, ingênua, que mentia para os pais para ficar com o namorado, que constantemente a drogava e pedia que ela mentisse para os pais.

Namoro – Suzane disse que começou a fazer caratê quando era adolescente. Na mesma época, seu irmão, Andreas, começou a fazer aulas de aeromodelismo. Foi quando ela conheceu Daniel, que dava as aulas. Suzane contou que acompanhava o irmão no curso e que começou a namorar com o consentimento da mãe.

Contrariando o que disse Daniel em seu depoimento, a jovem afirmou que usou drogas pela primeira vez no Natal de 1999, acompanhada pelo namorado, que lhe ofereceu maconha. Disse também que perdeu a virgindade com Daniel em janeiro de 2000, ao contrário do que ele disse. Sua primeira vez aconteceu no aniversário de Daniel, na casa dele. Segundo ele, ela teria perdido a virgindade com um outro namorado, lutador de caratê, aos 14 anos.

Um dos argumentos da defesa é que, perdendo a virgindade com Daniel, a ré teria aumentando sua paixão e sua dependência pelo namorado – e por isso poderia ter planejado a morte dos pais, a mando de Daniel. Nesse sentido, Suzane disse que era obediente a Daniel, a quem atribui o plano de matar seus pais. “Para mim, era Deus no céu e Daniel na Terra.”

O pai dos irmãos Cravinhos, Astrogildo, deixou o plenário durante o depoimento de Suzane. “Isso é uma palhaçada”, disse antes de levantar. Minutos antes, Suzane o acusara de ter sido conivente com uma viagem feita em 2000 por ela e Daniel, sem anuência dos Richthofen.

Suzane acusa Daniel de tê-la convencido a matar os pais com a intenção de apoderar-se da herança, avaliada em R$ 2 milhões. Em seu interrogatório, Suzane fez diversas referências a coisas que pagou para Daniel. “Ele nunca falou “eu quero tanto”. Mas ele falava “ah, meu amorzinho, eu queria tanto tal coisa” e eu, querendo agradar, dava.”

Quando foi interrogado, Daniel disse que, no primeiro ano de namoro, Suzane chegou a chorar antes de os dois transarem pela primeira vez. Na ocasião, ela teria admitido que chorava por causa das lembranças do ex. “Ficou uma situação muito constrangedora pra mim”, disse Daniel.

O debate sobre a perda da virgindade de Suzane é importante porque sustenta a principal tese dos advogados de defesa da jovem: a de que Daniel a convenceu a matar os pais pelo poder irresistível que exercia sobre ela.

Sozinho – Em depoimento, que começou às 14h45 e durou cerca de três horas, Daniel Cravinhos afirmou ter matado Manfred e Marísia sozinho. Ele disse que conheceu a garota quando ela tinha 16 anos. O réu disse também que a jovem já fumava maconha antes de conhecê-lo. As declarações de Daniel vão no sentido contrário à tese de que Suzane teria se viciado durante o relacionamento com ele, de quem teria ficado escrava psíquica.

A defesa da jovem diz ainda que Suzane dava dinheiro a Daniel, o que o jovem também negou, reforçando que trabalhava desde os 14 anos e que, na época do crime, tinha um salário de R$ 2,5 mil e não precisava do dinheiro da jovem.

Daniel se recusou a responder, sob orientação de seu advogado, Geraldo Jabur, à maioria das perguntas feitas pelo advogado da defesa de Suzane, Mauro Nacif. Grande parte das questões dizia respeito ao namoro dos dois. Nacif insistiu em perguntas sobre o uso de drogas e também sobre o relacionamento que Suzane e Daniel mantinham.

O crime – Segundo Daniel, no dia do assassinato, seu irmão Christian teria entrado no quarto do casal Richthofen, mas ficou nervoso e passou mal no momento do ataque. Até então, acreditava-se que Daniel teria tido a ajuda do irmão para dar os golpes que mataram o casal. Porém, Daniel disse que deu os golpes sozinho, primeiro em Manfred, depois em Marísia.

Disse também que freqüentava o sítio da família Richthofen e que os pais de Suzane não eram contra o namoro, mas que começaram a brigar com a filha após uma viagem que ela teria feito sozinha com o namorado. Segundo Daniel, Suzane sempre quis matar os pais, pois Manfred batia nela com freqüência, além de submetê-la a abusos sexuais. Daniel disse que matou o casal a mando de Suzane, que tinha arquitetado vários planos para o assassinado, um deles previa o corte dos dutos de freio do carro dos pais.

Daniel ainda reiterou o que consta no depoimento de Suzane, que o casal Richthofen seria grande consumidor de álcool, que Manfred tinha amantes e que Marísia mantinha um relacionamento homossexual com uma paciente.

Para Mário Sérgio de Oliveira, um dos advogados de Suzane, o depoimento de Daniel é mentiroso, “uma estratégia da defesa”. O advogado também rebateu as declarações de que Suzane demonstrava intenção de matar os pais desde o primeiro ano de namoro porque o pai a maltratava e abusava dela sexualmente.

Christian – Em seu depoimento, que durou 1 hora e 25 minutos, Christian Cravinhos repetiu a versão apresentada por seu irmão, de que ele não participou do assassinato de Manfred e Marísia.

Em suas declarações, Christian afirmou que Daniel e Suzane chegaram transtornados à casa da família Cravinhos dizendo que iam matar os pais dela. Quando encontraram Christian no cybercafé onde estava Andreas, irmão mais novo de Suzanne, levaram-no de carro até a casa dos Richthofen. A caminho da casa dos pais, já pretendendo matá-los, Suzane fumava um cigarro de cravo como se estivesse indo ao Hopi Hari, disse Christian.

Ele repetiu a versão de que subiu ao quarto do casal, mas não bateu em ninguém. Ficou na janela vendo o irmão dar os golpes que mataram Manfred e Marísia. Ele disse que, depois de ter visto o assassinato, não conseguiu dormir. Em seu primeiro depoimento, em 2002, Christian havia dito que atacara Marísia. Ontem, ele afirmou ter feito a confissão para proteger o irmão Daniel.

Christian disse que o arrependimento é uma tatuagem no coração e que vai levá-la até a morte. O julgamento deve se estender até sexta-feira, quando os jurados (quatro homens e três mulheres) decidirão se os réus são culpados ou inocentes.