Aumentam as fraudes com cheques
Em “Prenda-me se for capaz”, o ator Leonardo Di Caprio incorporou o mais famoso vigarista americano, Frank Abagnale Jr., que, nos anos 60, desfrutando de métodos inovadores, se tornou o maior falsificador de cheques do mundo. Longe das telas, as fraudes com essa modalidade de pagamento são uma realidade no mercado brasileiro.
Dados fornecidos pelo sistema de proteção ao crédito UseCheque, administrado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), apontam que o número de documentos sustados por roubo ou extravio – principais formas de adulteração ou fraudes – vem crescendo nos últimos anos. Em 2001, eram 10,4 milhões. Esse volume saltou para 10,9 milhões, em 2002; para 11,77 milhões, em 2003; para 11,95, em 2004; e para 13,78, em 2005. Até o mês de julho deste ano, já foram registrados 9,2 milhões de cheques irregulares. Segundo o diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da ACSP, Marcel Solimeo, o volume mensal de cheques em circulação alcança 160 milhões.
Poder de barganha – A maior vítima desse tipo de fraude é o varejo, que vê no cheque uma opção para facilitar o acesso ao crédito, principalmente das classes com menor poder de compra. “O cheque é o poder de barganha que o comércio tem para possibilitar o parcelamento de compras e o acesso ao crédito”, diz Solimeo.
De acordo com o economista, apesar de o comércio dispor de equipamentos de segurança e sistemas de proteção, como o UseCheque e Serasa, grandes filtros no combate à fraude, algumas falsificações são muito perfeitas e difíceis de serem detectadas. “Ainda mais agora, com a tecnologia das máquinas de xerox e de impressão, o trabalho fica muito bem feito”, completa Solimeo.
Para o diretor financeiro da Camisaria Colombo, Paulo Jabur, além das novidades tecnológicas utilizadas pelos fraudadores, outro problema enfrentado pelo comerciante é o descaso de algumas instituições financeiras em abastecer o banco de dados dos sistemas de segurança UseCheque e Serasa.
Segundo Jabur, os cheques devolvidos pelas alíneas 25 e 35, por exemplo, não constam no sistema para checagem. A alínea 25 trata do cancelamento de talonário pelo banco sacado, seja por extravio na própria instituição ou durante a postagem para o cliente. Já a devolução pela alínea 35 ocorre quando o cheque é fraudado, seja por clonagem ou completa falsificação das folhas do talonário.
“Se os bancos comunicassem ao sistema imediatamente o extravio de um talonário ou fornecessem informações completas como, por exemplo, se o CPF é realmente daquela conta-corrente e agência bancária, certamente esse tipo de fraude seria reduzido”, afirma.
Treinamento – Apesar de o cheque não ser a modalidade de pagamento mais utilizada pela rede de supermercados D'avó, o diretor de operações, Márcio Mota, dá treinamento para que os operadores de caixa identifiquem o documento e RGs falsos. Outro cuidado da rede é exigir cadastro prévio dos clientes que queiram pagar com cheque. “Mas não adianta todo esse esforço se os bancos não passam ao sistema todas as informações de que dispõem”, diz Mota.
Para o diretor executivo do cartão Carrefour, Celso Amâncio, os bancos precisam ficar atentos para detectar e comunicar esse tipo de fraude. “Existem quadrilhas especializadas em roubar malotes de talonários e fabricar documentos em cima das informações que obtiveram nas folhas do cheque”, diz.