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América Latina está ficando velha e pobre

Guarulhos, 10 de abril de 2002

No ano 2050, nada menos que 22,6% da população da América Latina terá mais de 60 anos, segundo anúncio que a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) fez no início da Conferência sobre Envelhecimento das Nações Unidas, em Madri.

A taxa de crescimento entre os maiores de 60 anos vem aumentando mais rapidamente que a população total da América Latina.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também divulgou um documento na conferência, afirmando que atualmente, na América Latina, “há cerca de 44 milhões de pessoas nessa faixa etária e muitos vivem em situação de grande vulnerabilidade econômica”.

Segundo a Cepal, o processo de envelhecimento na América Latina “se dá em um contexto de pobreza, aguda desigualdade social, baixa cobertura da previdência e deterioração das estruturas familiares de apoio aos idosos”.

Desfavorecidos

A população de idosos está entre os segmentos menos favorecidos na região.

Para a Cepal, com a falta de um sistema de previdência eficiente, “conclui-se que a América Latina tem a pior distribuição de renda em todo o mundo”.

O BID acredita que é por isso que a aposentadoria continua a ser “um artifício usado por muitos dos idosos de baixa renda, que se aposentam para seguir trabalhando”.

A Cepal afirmou que, na América Latina, menos da metade da população urbana com mais de 60 anos recebe dinheiro de aposentadoria ou pensão, frente a 38% nas zonas rurais – índice que cai para 28% quando se inclui o Brasil.

Idosos vivem em situação de miséria

“Não me atreveria a dizer que é impossível enfrentar os obstáculos”, afirmou Miguel Villa, chefe da área de população e desenvolvimento da Cepal.

“O que precisamos é nos conscientizarmos de que ainda temos algum tempo para adotar medidas para enfrentar os desafios que estão por vir.”

'Problema ético'

Um dos obstáculos a que se refere Villa é a atual incorporação dos mais jovens como força de trabalho.

“É preciso gerar postos de trabalho de qualidade adequada, que gerem contribuições que permitam preencher a lacuna da previdência”, disse ele.

A realidade atual da América Latina, com crises econômicas profundas e uma geração de empregos precários, no setor informal e de baixa remuneração, dão uma idéia do que os países da região deverão enfrentar nos próximos anos.

O presidente do BID, Enrique Iglesias, afirmou que “entende a situação dos idosos como um problema ético e de solidariedade”.

“Vejo uma grande oportunidade de uma nova cultura do envelhecimento, estabelecendo novas regras, exigências e possibilidades para o desenvolvimento, com uma população de idosos mais educada, saudável, produtiva e madura”, disse Iglesias.