Alta produtividade com deficientes físicos
Mais que cumprir uma exigência legal, contratar deficientes significa seguir os princípios de responsabilidade social sem abrir mão de profissionais qualificados. Companhias como a ACS, do grupo Algar, o BankBoston e o Grupo Sul América investem em funcionários portadores de necessidades especiais, obtendo alta produtividade e colhendo os benefícios da diversidade no ambiente corporativo.
– São pessoas que esperam com ansiedade por uma oportunidade e, quando conseguem, vestem a camisa da empresa. Além disso, desenvolveram sensibilidade e capacidade de adaptação que são passadas para a equipe – afirma a consultora de RH da Adecco Top Service, Mariana Vasquez, acrescentando que a empresa tem programa para inserção de portadores de deficiência no mercado.
Além disso, são profissionais acostumados a dificuldades e que, por isso, têm mais facilidade para driblar as adversidades. “São motivadores das equipes onde atuam”, atesta o líder em seleção do Grupo Sul América, João Marcos Blanco Dias. A Sul América conta, hoje, com 41 portadores de necessidades especiais, 17 a mais desde julho do ano passado.
Número que tende a crescer até mesmo pelo fato de que 14,7% da população brasileira têm algum tipo de deficiência, segundo o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Basta, portanto, que as companhias estejam dispostas a treinar esses profissionais e investir em estrutura física para recebê-los.
Com objetivo de mapear as necessidades e condições de vida destas pessoas, a Fundação Banco do Brasil, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), está promovendo um levantamento sobre as condições dos deficientes no País. “Até fevereiro de 2003 saberemos onde estão, qual o nível de escolaridade e condições de vida desta população, propondo, então, políticas públicas e fortalecendo as iniciativas no setor privado”, diz a diretora da área de assistência social da Fundação Banco do Brasil, Dulce Jane Vaz.
Na ACS, que atua na área de telemarketing em Uberlândia, Minas Gerais, o foco nos deficientes começou na construção da sede. O prédio é adaptado para atender a portadores de deficiência física e a empresa se prepara para contratar cegos. “Isto significa posicionar a companhia como socialmente responsável”, comenta a diretora de talentos humanos da companhia, Cida Garcia.
A empresa teve, por exemplo, que exigir da Prefeitura transporte especial para os deficientes físicos, que hoje são 30 entre os 1,4 mil funcionários da organização. Depois de investir R$ 10 mil em infra-estrutura, a ACS espera estar apta a receber também profissionais cegos.
Analista de dados da empresa, Acacio Ribeiro da Silva, que teve paralisia infantil, trabalha na ACS há três anos e cursa faculdade de Administração de Empresas. “As exigências e investimentos no funcionário são iguais. As pessoas reconhecem que temos apenas limitações diferentes, mas podemos realizar um bom trabalho”, afirma Silva.
O fundamental, segundo a consultora de RH da organização não-governamental Centro de Vida Independente (CVI), Celma Barros, é eliminar o preconceito do ambiente de trabalho. “Ainda há deficientes que reclamam por serem tratados como dignos de pena ou incapazes, quando, na verdade, podem realizar suas tarefas de forma eficiente. O papel do líder neste momento é a mola para evitar reações deste tipo no grupo”, afirma Celma.
No BankBoston, que conta com 15 deficientes em seu quadro funcional, os gestores recebem treinamento para lidar com os portadores de necessidades especiais. “Se qualificadas estas pessoas podem ocupar qualquer posição na empresa, recebendo treinamento e condições de desenvolvimento iguais a de qualquer outro profissional”, diz o diretor de RH do banco, Denilson Santos, destacando que há dificuldades para encontrar mão-de-obra preparada.
O caminho para selecionar deficientes é procurar empresas de recolocação ou entidades sem fins lucrativos que tenham banco de currículos destes profissionais.