Acidente de trabalho custa R$ 20 bi
Os acidentes de trabalho custam caro para empresas, Estado e familiares de acidentados. Segundo um levantamento do economista José Pastore, da Universidade de São Paulo, USP, no Brasil, as despesas chegam a R$ 20 bilhões por ano. O estudo foi feito em 2001. Uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento, BID, na América Latina, também mostra os elevados custos com os acidentes de trabalho. Cerca de US$ 76 bilhões vai pelo ralo nas organizações públicas e empresas.
Os empresários são os maiores prejudicados pelos acidentes e doenças com os funcionários. São gastos R$ 12,5 bilhões anuais. A principal fonte de custo é o tempo perdido, segundo Líria Aparecida Pereira, coordenadora da área de Segurança e Saúde no Trabalho do Senac São Paulo. A esse valor deve se acrescentar as despesas com primeiros-socorros, destruição de equipamentos e materiais, recuperação de empregados, despesas administrativas, adicional de periculosidade, ações judiciais e perda da imagem da empresa.
Segundo Líria, por todos esses motivos, as companhias deveriam encarar a questão da saúde e segurança no trabalho como investimento, mas a prática não é comum. Ela diz que, nos últimos anos, houve um avanço, mas ainda há muito o que fazer. “Algumas companhias de setores mais problemáticos, como a construção civil, só se preocupam com o assunto porque o governo as obriga. Não têm uma política de prevenção”, afirma ela. Para Líria, a segurança tem de ser vista de forma integrada pelo empresário.
O Estado também perde. Segundo o estudo de Pastore, são cerca de R$ 5 bilhões por ano. O prejuízo fica por conta das despesas com a reabilitação do colaborador, reintegração dele ao mercado de trabalho, atendimento à saúde e outros gastos com trabalhadores do setor informal. “Constitucionalmente o Estado não pode negar atendimento a esses trabalhadores, mesmo eles não sendo segurados pela Previdência”, diz Alexandre Gusmão.
Incentivo – Rita de Cássia Evaristo, presidente do Instituto Nacional de Saúde no Trabalho, sugere uma solução para tirar um pouco do peso dos acidentes das costas do Estado. “O governo deveria criar um mecanismo para que as empresas irresponsáveis assumissem todas as despesas com trabalhadores acidentados. O Estado administra, mas cobra delas”, diz Rita. E as empresas que fazem a lição de casa corretamente, com seriedade, poderiam receber um incentivo do governo. “Bom para os dois lados”, conclui.
As famílias, na outra ponta, ficam com gastos dificilmente computados. “Eles são tão diluídos, que ficam quase imperceptíveis”, afirma Gusmão. Mas, quando consolidados, são R$ 2,5 bilhões anuais. Boa parte das despesas são com medicamentos, médicos especialistas e mudanças para acomodar o acidentado em casa. “Isso tudo sem falar no problema que pode gerar para a família, que não está acostumada a ter a pessoa o tempo todo em casa”, conclui Gusmão.
Excluídos – Gusmão, com base no estudo do economista Pastore, diz que os números podem ser ainda mais elevados por causa dos “excluídos”, ou seja, das pessoas que estão no mercado informal, dos trabalhadores rurais, empregadas domésticas não registradas. “Eles não entram em nenhuma conta”, afirma ele.
Cláudia Marques