Varejo amarga outro mês de queda, mas analistas já vêem retomada
As vendas do varejo paulista indicam que a retomada econômica ainda não começou. Dados de setembro, medidos pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), demonstram um ritmo de queda inferior ao do mês de agosto, mas ainda bastante elevado. No caso das vendas a crédito, a retração foi de 3% em relação a setembro de 2002, e de 4% frente a agosto. Os negócios à vista também não ofereceram alento: na comparação anual e mensal caíram 2,7% e 4,5% respectivamente.
Segundo o economista da ACSP, Marcel Solimeo, a recuperação deve ocorrer apenas em outubro. Para ele, não houve tempo ainda para que as recentes quedas nos juros e os incentivos ao consumo tivessem efeito. De toda forma, ele analisa os dados de setembro como indicativos de retomada futura. Em agosto a queda nas vendas a prazo havia sido de 5,9%, portanto maior que os 3,0% registrados agora. “Estamos num ponto em que piorar menos significa melhorar”, lamenta Solimeo.
Já o economista-chefe do banco Bradesco, Octavio de Barros, argumenta que os dados negativos não trazem dúvidas quanto à aproximação de um ciclo de crescimento. “Não se pode interpretar como um sinal de reversão de expectativas”, afirma.
O analista de varejo Marcos Gouvêa de Souza, observa que há no comércio um “clima de distenção”, ou seja o consumidor já estaria freqüentando as lojas e planejando compras futuras. Mas dos desejos aos fatos há um caminho, e na opinião de Gouvêa de Souza, só mesmo a partir de outubro será possível sentir sinais mais concretos. “As pessoas não estão mais refratárias como antes, há uma propensão de consumo”, diz.
Segundo Solimeo, isso já pode ser observado nas encomendas do comércio. Com olhos em um último trimestre melhor, os empresários estão formando estoques. “Nada explosivo”, pondera o economista. Mas o suficiente para dizer que este será um Natal melhor do que o de 2002. O comerciante está contando com as reposições salariais que ocorrerão até o fim do ano. Como a projeção de inflação para o próximo ano é boa, se espera uma recomposição na renda.
Para Gouvêa de Souza, o início da retomada se dará pelo consumo de bens duráveis. Porém, num primeiro momento, isso afetaria o desempenho de outros setores, pois haveria uma transferência de renda. Os juros menores e a disponibilização de recursos para a compra de eletrodomésticos surtirão efeito, diz o analista. Octavio de Barros concorda. Segundo ele existe uma recuperação gradual do crédito que na ponta beneficiará o consumo de bens duráveis.
Neste cenário, as taxas de inadimplência parecem ajudar. Segundo o levantamento da ACSP, elas continuam em queda. Estão 3,6% menores do que em 2002, e caíram 0,7% em relação a agosto. Para complementar, aumenta o número de pessoas que estão limpando o nome na praça. Subiram 13,1% em setembro contra mesmo mês do ano passado.
Uma pesquisa de opinião da ACSP, mostra que a principal preocupação do consumidor atualmente é evitar o endividamento. Entre um universo de inadimplentes ouvidos, 71% cortará gastos para quitar a divida. Apenas 37% tem planos de voltar às compras no curto prazo.
Gustavo Faleiros