Gestão simples é desafio de executivos
O estilo de administração americano, baseado em procedimentos detalhados, está caindo em desuso. Agora, a procura é por modelos mais descomplicados.
Simplicidade como estilo de gestão. Esse assunto vem ganhando atenção e poderá cada vez mais influenciar na forma como as grandes empresas serão gerenciadas no futuro. O tema é atrativo e muitos executivos estão procurando desenvolver traços pessoais voltados para uma gestão mais simples e prática dos negócios.
“Todo mundo sofre com a complexidade, com o excesso de formalidade e com a falta de agilidade de empresas e pessoas”, defende Jorge Fornari Gomes, responsável pela área de Talentos da American Telecom, que falou sobre o tema no Congresso Nacional de Recursos Humanos, Conarh. Mas será que é fácil ser simples?
Segundo Gomes, não. “A simplicidade não é tão simples assim. Ela pressupõe uma certa complexidade que fica escondida e que pode gerar a impressão de que ser simples é igual a ser simplório”, afirma. Gomes diz que a simplicidade fica escondida atrás da larga experiência e das competências adquiridas ao longo da vida profissional de alguns gestores. Ou seja, os gestores simples erraram muito antes de adotar a estratégia da simplicidade. “Para se ser simples é necessário perspicácia gerencial”, afirma o executivo.
Profissionais com estilo simples de administração são, em geral, pessoas que estão sempre com a cabeça descongestionada e conhecem profundamente o negócio que dirigem. Por esse motivo, dão respostas rápidas às dúvidas que foram debatidas durante horas pela equipe. “Eles chegam e resolvem. O modo de gerenciar fica fora do convencional”, admite o professor Henrique Vailate Neto.
A simplicidade pode ser igualmente encontrada no super executivo e no dono da quitanda, porém é mais comum no varejo. Um dos motivos, segundo Gomes, é a origem humilde de boa parte dos donos de empresas nesse setor. “Um empresário simples, que evita ostentação, prefere ter uma equipe de profissionais descomplicados no quadro da companhia para continuar sendo uma ?empresa fácil de fazer negócios? para seus clientes e fornecedores”, afirma o executivo.
Apoio – Mas uma coisa é importante: simplicidade não é sinônimo de desorganização. A criação de modelos simples de gestão em ambientes complexos exige infra-estrutura de informação. Os descomplicados usam e abusam da tecnologia disponível. Fazem isso de forma correta, sem criar “burrocracias” para as tarefas cotidianas. Eles utilizam a tecnologia para facilitar o trabalho.
No entanto, como todo modelo de gestão, a simplicidade tem seus pontos fracos e riscos que podem “acidentar” os mais desavisados. Trabalhar em empresas com esse perfil exige algumas adaptações.
Centralização – Outro fator importante é aprender a lidar com a frustração causada pela centralização. Como tomam decisões rápidas, os líderes simples acabam não discutindo muito o assunto com a equipe. Para ganhar tempo, até flexibilizam regras. “O funcionário que tem um chefe com esse perfil tem de estar preparado para perder uma discussão logo na primeira frase – pelo poder que ele tem de virar o jogo – e ser capaz de continuar brigando por seus pontos de vista em outras ocasiões”, afirma Gomes. Mas, apesar disso, o chefe simples é bem aceito e respeitado pela equipe. O motivo: acerta nas decisões na maioria das vezes.
Cláudia Marques