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FHC: “FMI nos trata como analfabetos”

Guarulhos, 12 de março de 2002

O presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem a ajuda financeira do Fundo Monetário Internacional (FMI) para socorrer a Argentina. Ao discursar na abertura da 43.ª Reunião Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ele criticou o FMI, por atender diferentemente, de forma pior, os países latino-americanos, em comparação com os europeus. Fernando Henrique disse que governo brasileiro já questionou procedimentos da instituição financeira, mas, pelo tipo de resposta que recebeu, acha que foi tratado “como se alguns de nós fôssemos analfabetos”.

“Entendo e até já expressei isso, em público e privadamente, que, num primeiro momento, antes que a Argentina desse sinais mais claros de que tinha encontrado um caminho, que as instituições financeiras internacionais se mostrassem céticas”, discursou o presidente, diante de uma platéia com toda a direção do BID. “Mas, vê-se agora, nas últimas semanas, um empenho enorme do governo e do povo daquele país para buscar um caminho.”

De acordo com Fernando Henrique, o FMI não pode exigir mais garantias do que a Argentina é capaz de dar, sob pena de levar o governo do país vizinho a mentir – se essa for a única forma de obter ajuda. “É claro que não se pode exigir, em certas circunstâncias, mais do que uma resposta que seja uma mentira. E, se se exigir mais, sem que haja condições para esse mais, e se for indispensável para o país, que carta de entendimento entre esse país e o Fundo Monetário, senão uma carta falsa?”, provocou FHC.

Outro passo – Antes da reunião do BID, o presidente brasileiro encontrou-se reservadamente com o ministro da Economia da Argentina, Jorge Lenicov.

Segundo Fernando Henrique, o país já deu sinais de que está disposto a fazer sua parte. “A Argentina não quer fazer de conta, ela está dizendo – e agora depois de alguns esforços feitos: “Eu já fiz algo, me ajuda a dar outro passo”, discursou ele, cobrando das instituições financeiras uma “prova”, no caso argentino, de que estão mudando sua compreensão em relação à América Latina e vão liberar recursos.

“A prova concreta de que estamos mudando, realmente, em benefício de uma compreensão dinâmica do desenvolvimento na América Latina, a prova concreta disso nós vamos ver agora, num apoio efetivo à Argentina, à condição de que a Argentina efetivamente caminhe no sentido que foi assinalado”, disse Fernando Henrique.

O presidente cobrou do FMI medidas concretas em benefício dos países em desenvolvimento, como o aumento dos direitos especiais de saque de cada nação, de modo que o FMI “tenha mais capacidade efetiva de se contrapor, e logo, aos momentos de crise”. “Por que não contabilizarmos as nossas dívidas do mesmo modo que a Europa faz?”, perguntou, defendendo que, para contabilização da dívida, os recursos sejam somados somente à medida que ingressarem no país beneficiado.

“Já apelamos ao Fundo algumas vezes para pedir esclarecimentos. Por que fazem isso? Até hoje as respostas que deram foram como se alguns de nós fôssemos analfabetos. Não somos”, afirmou Fernando Henrique.

Demétrio Weber