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Prejuízo da Varig cresce 21 vezes

Guarulhos, 14 de agosto de 2001

Zulmair Rocha/Folha ImagemA Varig, maior companhia aérea brasileira, registrou nos primeiros seis meses do ano seu maior prejuízo em 74 anos de existência, causado, principalmente, pelo efeito da alta do dólar em sua dívida e pelos custos dos combustíveis.

O prejuízo de R$ 509,1 milhões é quase 21 vezes maior que o resultado negativo de R$ 24,5 milhões de reais do primeiro semestre de 2000 e cinco vezes superior ao prejuízo de todo o ano de 1999, considerado o pior período para o setor de aviação.

Analistas, como não poderia deixar de ser, viram com maus olhos os resultados e as perspectivas que eles representam para a empresa.

É o pior prejuízo de toda a sua história, torna a situação ainda mais complicada para a empresa, disse Carlos Antonio Magalhães, da Sirotsky & Associados, um dos únicos analistas que ainda acompanham o desempenho da empresa no mercado.

O patrimônio da Varig, positivo até o final de 2000, passou a ser negativo em R$ 657,8 milhões.

As duas subsidiárias também fecharam o semestre no vermelho. A Varig Participações em Transportes Aéreos perdeu R$ 27,6 milhões no período e a Varig Participações em Serviços Complementares, R$ 19,7 milhões.

O diretor de controladoria e de relações com investidores da Varig, Manuel Guedes, concordou que é “impossível não ficar preocupado com um prejuízo dessa magnitude”, mas enfatizou que a maior parte das perdas tem origem no impacto do câmbio sobre a dívida e custos com combustíveis.

O prejuízo, quando a gente olha o número absoluto, é muito elevado, mas o prejuízo em si, decorrente do câmbio, não é um problema para nós. Temos perdas apuradas, mas não saída de caixa, disse Guedes à Reuters.

Ele explica que a desvalorização cambial tem um impacto momentâneo no balanço da empresa, já que 65% da sua receita também é em dólar e contabilmente o balanço será equilibrado ao longo do tempo.

Informa que os pagamentos referentes à pesada dívida de US$ 1,25 bilhão da empresa – incluindo leasings de US$ 400 milhões – estão sendo feitos normalmente.

A Varig estuda também captações este ano no mercado, talvez por debêntures, para alongar o perfil do endividamento.

Além disso, até o final do ano vamos fechar a venda da participação na Varig Log, disse Guedes sobre a venda de 30% da empresa de logística da Varig. Esta negociação deveria ter ocorrido em julho, segundo havia dito à Reuters o presidente da empresa, Ozires Silva.

Uma venda dessa magnitude não sai de um dia para outro, justifica.

Outro plano da empresa é adotar um política mais agressiva nas promoções de passagens aéreas, aproveitando a liberação das tarifas pelo governo, e oferecer todas as alternativas possíveis para venda de passagens.

Estamos criando a Varig Virtual para isso. Vamos usar uma série de veículos, como TV a cabo, Internet de banda curta e larga, para estimular a compra de passagens, disse Guedes sobre a empresa cuja criação foi anunciada logo após a divulgação do prejuízo e onde serão investidos 50 milhões de dólares.

Estamos adotando políticas e estratégias que tendem a ter retorno no médio e longo prazos, aposta Guedes.

Para o analista da Sirotsky & Associados, a única saída para a Varig é se associar a uma empresa estrangeira e se captalizar, porque seu endividamento é muito alto e só uma reversão da queda do real ajudaria a Varig.

De todas as empresas aéreas, a Varig é a única que tem condições de se associar a uma estrangeira, porque é muito conhecida lá fora. Não vejo outra saída, opina Magalhães.

Ele lembra que a sua principal concorrente, a TAM – que ainda não anunciou os resultados do semestre -, também deverá registrar prejuízo, confirmando aos maus ventos para todo o setor de aviação.

É o setor que não vai bem, o negócio aviação tem que ser repensado no Brasil, avalia Magalhães.