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As lições das eleições

Guarulhos, 06 de novembro de 2002

Muitos dos meus leitores que leram o artigo ?Lições da Copa? me perguntaram que lições eu tirei da campanha presidencial deste ano. Olhando o pleito do ponto de vista de um empreendedor, defini alguns pontos que podem ser projetados para o nosso dia-a-dia.

Estratégia é fundamental

Antes de começar a campanha, cada candidato deve, ou deveria, ter montado uma estratégia, uma linha de ação, um tema que norteasse todas as ações. Muitas vezes o segredo do sucesso está em adotar a melhor estratégia. O PT adotou uma estratégia dirigida ao centro, uma abordagem defensiva e não ofensiva e de alianças. A falha na estratégia de Serra foi concentrar sua atenção em Ciro e Garotinho no primeiro turno e se preocupar com o Lula só no segundo. Outra falha foi apostar em atribuir a instabilidade econômica à ascensão de Lula nas pesquisas. O tiro saiu pela culatra.

Conheça seu concorrente

Identifique os pontos fracos dos concorrentes e concentre suas ações neles. Enalteça sempre suas forças, sobretudo aquelas que reforçam as fraquezas do oponente. Sun Tzu, autor do best seller ?A Arte da Guerra? ensina: ?Procura obter todas as informações sobre teu inimigo. Informa-te exatamente de suas relações, ligações e interesses. Não poupes grandes somas de dinheiro para isso?. Serra chegou ao segundo turno por meio de uma excelente infra-estrutura de informação, mas Lula tinha a vantagem de expor as deficiências do governo que Serra representava.

Saiba trabalhar em equipe

O PT sempre foi um partido de identidade. Uma identidade que talvez tenha se arranhado um pouco por causa das alianças que foi obrigado a fazer, mas ainda assim existe um senso de coesão no partido. A equipe de Serra não conseguiu impedir rachas dentro de seu próprio partido. Você não precisa ser especialista em tudo, mas deve cercar-se de pessoas que você possa confiar, que conheçam bem suas especialidades e que sejam competentes.

Construir relações é uma arte

Lula, com seu carisma e uma postura totalmente diferente de outras campanhas, conseguiu reunir em torno de si não só a classe trabalhadora, mas empresários, artistas, banqueiros entre outros. Até dentro da FIESP eu vi cartazes pró-Lula. Serra perdeu o apoio até de parte dos partidos que são tradicionalmente governistas como o PFL e o PMDB.

Não tente contentar a gregos e troianos

Tentar agradar a todos é sinônimo de desagradar a todos. Satisfazer a alguns pode significar frustrar outros. A ala radical do PT teve que se acomodar num canto durante a campanha. Saiba falar ?não? quando precisar.

Imagem é tudo

Uma excelente assessoria de imagem mudou os tradicionais rótulos que Lula carregava de seu passado. Do irascível sindicalista ao estadista. É claro que tudo é construído artificialmente, mas serve para aprendermos que a imagem que construímos sobre nós mesmos pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso. Uma simples declaração pode construir uma imagem negativa, mas para mudar para uma imagem positiva é preciso um esforço monumental. Ciro Gomes que o diga.

Origem é nada

O currículo pessoal de Lula, sua ascensão e a glória máxima que um político pode obter que é a cadeira principal à frente do Executivo é o sinal mais evidente que o empreendedor pode chegar ao sucesso independentemente da escola que frequentou ou do berço em que nasceu. Mais importante do que as condições que temos para crescer é o que conseguimos tirar destas condições.

Persistência é fundamental

Só na quarta tentativa Lula chegou lá. Esta é uma lição fundamental para o empreendedor. O fracasso faz parte do caminho do sucesso. É com o fracasso que aprendemos e nos tornamos melhores. Lula jamais conseguiria vencer se não tivesse trilhado este caminho. O mais importante é não esmorecer, é saber que o caminho está certo. Inicie uma jornada sabendo que pode cair, mas quanto mais convicto você estiver sobre seu futuro e seu destino, mais forças terá para se levantar e tentar novamente.

Sabemos, enfim, que mais difícil do que atingir o topo é manter-se lá. Tenhamos votado no Lula ou não, estamos todos no mesmo barco. Devemos então, a partir de agora, torcer e apoiar o novo timoneiro, pois o seu fracasso, agora, será o nosso fracasso.